Maxxi Museum, Zaha Hadid | Roma
25/02/2019

Roma é uma cidade histórica, repleta de sítios arqueológicos que tornam o convívio com o passado uma parte do cotidiano. A capital italiana é tão preservada que qualquer intervenção urbana tem que ser profundamente estudada para não gerar conflito com o patrimônio existente. Nesse contexto, surge o Maxxi Museum.

Em 1990, foi lançado o concurso de arquitetura para o Maxxi e o projeto da iraquiana Zaha Hadid foi o favorito entre as 273 propostas apresentadas (outro concurso vencido por zaha já foi assunto aqui no blog). Sua inauguração em 2010 foi um marco na história recente da Itália, visto que um museu de arte contemporânea não era construído há décadas.

Localizado no Flaminio, um bairro mais afastado do centro, o lote cedido para a construção atravessa a quadra e possui mais de 100 metros de profundidade. A solução proposta por Zaha tira partido disso e se desdobra à medida que adentra o terreno – da rua não conseguimos visualizar o museu em sua totalidade.

O Museu Maxxi visto da rua, de onde não conseguimos avistar o museu em sua totalidade.

Quem caminha pela via Guido Reni, nem imagina que encontrará um edifício tão espetacular a poucos metros de distância. A fachada voltada para a rua preserva o estilo e as proporções das construções do entorno. Um segundo volume longilíneo parece que morde esse primeiro prédio e então avança para o fundo do terreno. Cria-se então uma dualidade entre o clássico e o contemporâneo, entre o antigo e o novo.

Balanços horizontais e colunas esbeltas.

Enquanto o prédio da frente leva uma pintura na cor branca, o volume de traz é inteiramente em concreto aparente, composto pelos volumes em balanço e linhas curvas, característicos da arquitetura de Hadid. A horizontalidade desses pesados volumes é contraposta por colunas esbeltas e inclinadas e por grandes panos de vidro na fachada.  

O afastamento da divisa lateral cria uma grande praça que permite visualização do prédio a distância. Os mesmos traços curvos e assimétricos são preservados no desenho paisagístico. Essa linguagem do exterior adentra o prédio, criando uma fluidez entre o dentro e o fora.

No interior, os espaços são emoldurados pelo desenho eloquente de Zaha Hadid. As linhas curvas que já vimos do lado de fora conformam os espaços, desenham as vigas, os fluxos, as escadas, a mobiliário, a iluminação… Caminhar pelo projeto é acompanhar essa transformação ao longo do percurso. É observar a explosão e sobreposição das diferentes camadas do desenho em um mesmo espaço.

Escadas, passarelas e vigas surgem de um mesmo traço e caracterizam o projeto.

Dentro do conceito de continuidade, o percurso da exposição se desenvolve de forma linear. Você sai de uma galeria diretamente para a outra. Em muitos momentos, as escadas e circulação estão dentro dos próprios espaços expositivos. Apesar dessa ininterrupção, há uma diferenciação nas tipologias das salas através da iluminação, materialidade, pé-direito e larguras, tornando cada ambiente propício a receber determinado tipo de exposição.  

Galerias de exposição do museu. Paredes por vezes inclinadas e fluxo contínuo.

Sobre o desconstrutivismo

O termo ‘desconstrutivismo’ surgiu na década de 1980 como um conceito desenvolvido pelo filósofo Jacques Derrida. Seu desdobramento na arquitetura, teorizado por Colin Rowe e Peter Eisenman, explora simultaneamente a colagem de fragmentos através da assimetria geométrica (que tem como referência o construtivismo russo) e a funcionalidade provinda do movimento moderno. A arquitetura de Zaha Hadid se enquadra nesse movimento desconstrutivista. Seus projetos surgem de um universo abstrato, representado por ela mesma em pinturas que datam do início de sua carreira.

Prêmios e Reconhecimento

A importância do seu projeto de arquitetura lhe rendeu o reconhecimento do Prêmio Stirling do Instituto Real de Arquitetos Britânicos (RIBA Stirling Prize) em 2010. O museu ainda conta com um impressionante acervo de arte e arquitetura, com exemplares de Sol Lewitt e arquivos de Carlo Scarpa e Pier Luigi Nervi. Mais do que um centro cultural deslumbrante e inovador, o Maxxi Museum demarcou um momento histórico para a arte e a arquitetura italiana.