No texto de hoje, trago um relato sobre a minha visita à Antuérpia, a capital de Flandres, região flamenca no norte da Bélgica. Com uma população urbana de pouco mais de 500 mil habitantes, a cidade cresceu e se desenvolveu em grande parte graças à industria de lapidação de diamantes e ao seu porto. As atividades portuárias foram estabelecidas durante a idade média e permaneceram desde então. Hoje, a sua importância permanece a ponto deste ser considerado o segundo maior porto da Europa e um dos principais do mundo.
Prevendo a sua expansão nos próximos anos, uma parte das atividades portuárias foi deslocada para o norte da cidade, o que ocasionou em um esvaziamento da zona portuária original. Com o objetivo de revitalizar o local, foram estabelecidos incentivos para a construção de empreendimentos que trariam novos usos para a área, como prédios residenciais e edifícios multiuso, conciliando hotéis, comércio e residencial, além de museus.
Seguindo uma tendência mundial de investimento em arquitetura do espetáculo para fomentar o turismo, foi realizado em 2008 um concurso para a nova sede administrativa do porto da Antuérpia. Entre as exigências, a nova sede deveria ser construída sobre a antiga estação de bombeiros, cujo prédio deveria ser preservado. A proposta vencedora foi a da arquiteta iraquiana Zaha Hadid, considerada a mais criativa entre as inscritas. A intervenção de Zaha é como uma nave que pousa sobre o edifício original e aponta para o centro da cidade, onde a mesma foi originada. Para ver as soluções dos demais finalistas, acesse: http://archixplore.com/en/competition-port-house/
Não muito distante dali, pouco mais ao sul, temos o Museum aan de Stroom, o MAS, projeto do escritório holandês Neutelings Riedijk Architects. Inaugurado em 2011, trata-se do maior museu da cidade e reúne acervos pertencentes aos antigos museus etnográficos e marítimos. O museu conta a história da Antuérpia, do seu porto e as atividades de troca com outras nações. É um museu interativo com muitas curiosidades para as crianças.
O museu foi pensado estrategicamente como uma ponte entre o centro histórico e o porto. As atividades marítimas e portuárias serviram como inspiração e foram elementos norteadores do projeto. Um exemplo disso é a esquadria curva empregada na fachada. O ritmo do vidro faz alusão às ondas do rio Scheldt.
A circulação vertical do edifício é feita através de escadas rolantes, que circundam o museu ao longo das suas quatro fachadas. O hall de cada pavimento possui sempre um pé direito duplo. Essa alternância de pé direito torna-se evidente na fachada, o que resulta em um jogo de contraposição e encaixe, variando entre transparência e opacidade.
O revestimento das fachadas é composto por placas de arenito avermelhado. O mesmo material é empregado no pisos, paredes e tetos dos espaços comuns e de circulação, o que traz uma continuidade entre o espaço externo e interno, assim como entre as diferentes superfícies. É como se a praça adentrasse o museu e se fundisse com as paredes e o teto.
Os espaços expositivos ficam protegidos no núcleo do edifício, o que permite o controle da iluminação e da temperatura artificialmente. As salas de exposição são separadas por pavimento, desconectadas entre si. Para ir de uma para a outra, o visitante é obrigado a retornar ao espaço de circulação comum do edifício, onde desfrutamos da iluminação natural e de um belo panorama sobre a cidade. Todas as fachadas do edifício recebem o mesmo tratamento então, a cada andar que se sobe, avista-se um ponto de vista diferente. Na cobertura, é possível avistar a cidade a 360 graus. Além das exposições, o museu inclui um restaurante no penúltimo andar e um café no térreo.
Quase 8 anos após a inauguração do museu, o bairro continua em obras. Isso nos faz questionar até que ponto o investimento na arquitetura por si só consegue provocar uma transformação na escala do bairro.