A estação intermodal Saint-Denis Pleyel, um projeto de Kengo Kuma & Associates, foi inaugurada em Junho de 2024, poucas semanas antes dos Jogos Olímpicos e Paralímpicos (JOP) de verão, em Paris. A estação faz parte da Grand Paris Express, uma imensa rede de metrô que irá conectar toda a regão metropolitana da capital francesa. Serão no total 68 novas estações, 200 quilômetros de trilhos e 4 novas linhas de metrô (15, 16, 17 e 18).

Historicamente, o metrô de Paris cresceu de forma radial, partindo do centro da cidade. Quanto mais longe do centro, menos linhas disponíveis. O mesmo vale para o subúrbio: Se você mora em Nanterre (no oeste de Paris) e quer ir ao aeroporto Charles De Gaulle (no norte de Paris) de transporte público, por exemplo, terá que passar pelo centro de Paris durante o trajeto. O Grand Paris Express vem resolver esse problema ao criar dois imensos anéis na região metropolitana, consequentemente desafogando o fluxo no centro de Paris. Acesse aqui para ver o mapa do Grand Paris Express.
O projeto do Grand Paris Express foi lançado durante o governo de Nicolas Sarkozy, em 2016, um ano antes da cidade Luz vencer a candidatura para as Olimpíadas de 2024. Apesar de ser um projeto independente dos jogos olímpicos, a esperança era que o megaevento ajudasse a acelerar as obras. Com a pandemia da Covid-19, a guerra na Ucrânia e outros imprevistos que impactaram o andamento das obras, a rede não ficou pronta a tempo dos JOP. A nova data estimada para conclusão é 2031.
Em 2024, uma exposição sobre o Grand Paris Express foi organizada na Cité de l’Architecture et du Patrimoine (Métro! Le Grand Paris em mouvement). Além de um rico histórico da evolução do metrô na cidade, a exposição apresentava os projetos das 68 novas estações. Muitas levam assinatura de escritórios de arquitetura renomados, como BIG e Benedetta Tagliabue, e contam com parceria com artistas.
Algumas estações ficaram prontas a tempo dos Jogos Olímpicos, como a nova estação do aeroporto Orly, projeto dos arquitetos François Tamisier e Bernard Baret em parceria com o artista português Vhils.

Visitei algumas outras estações que também ficaram prontas na linha 14, à caminho de Orly, como a Chevilly-Larue, projeto de Jerôme Brunet em parceria com Gerda Steiner e Jörg Lenzlinger, e Hôpital Bicêtre, de Jean-Paul Viguier em parceria com Eva Jospin (fotos abaixo).
Ainda na linha 14, na extremidade norte, fica a estação Saint-Denis Pleyel, projetada pelo japonês Kengo Kuma.
Vale mencionar que entre maio e junho 2024, a Maison de la Culture du Japon em Paris organizou uma exposição sobre os arquitetos Kenzo Tange e Kengo Kuma. Ambos projetaram estádios para os jogos olímpicos de Tóquio – Kenzo Tange para a edição de 1964 e Kuma para a de 2020 (que aconteceu em 2021).
Kuma agora contribuiu igualmente para os JOP de Paris, com a estação Saint-Denis Pleyel. Ela foi projetada para se tornar a maior estação no norte de Paris, interligando a comuna de Saint-Denis diretamente ao centro de Paris pela linha 14, passando por estações importantes como a Saint-Lazare, Chatelet, Gare de Lyon e o aeroporto de Orly ao sul. Com o avanço das obras de Grand Paris Express, três outras linhas passarão pela estação Saint-Denis Pleyel – as 15, 16 e 17. Por este motivo, nessa fase pós-inauguração, a estação ainda parece muito vazia. Especialistas dizem que ela foi projetada para comportar uma demanda futura de 250 mil passageiros diários.

Como em muitos projetos de Kuma, o uso das ripas de madeira é recorrente. A madeira está presente tanto no revestimento interno quanto na fachada. A madeira traz um calor para um espaço geralmente frio e impessoal, como uma estação de metrô.


Como ela irá acolher diversas linhas, a estação é bem profunda, com um átrio de mais de 30 metros de profundidade. O vazio é recortado por uma série de escadas rolantes. A clarabóia permite a entrada de luz natural.



Uma solução muito interessante é a rampa atravessa a fachada e contorna o edifício, se juntando com a passarela que cruza sobre as linhas férreas até a estação Stade de France Saint-Denis, onde passa o trem urbano (RER D). A passarela, projetada por Marc Mimram, é longa e larga o bastante para se tornar um espaço de estar, além de apenas passagem. O percurso inclui variação de materiais no piso e mobiliário urbano, como bancos, canteiros com plantas e pergolados, elementos que dão vontade de pausar o caminhar e curtir o local por alguns instantes.


O prédio parece moldado por esse fluxo que contorna o prédio, de modo que o próprio prédio se torna um espaço público. As escadas e rampas amplas se assemelham a espaços de estar.




A estação Saint-Denis Pleyel criou mais um acesso ao Stade de France, que durante os jogos olímpicos acolheu partidas de rugby e atletismo, além das cerimônias de encerramento dos jogos olímpicos e paralímpicos.



Antes, o Stade de France já podia ser acessado pelo trem urbano (linha RER B ou RER D). A nova opção de metrô é uma alternativa que resulta em uma caminhada mais longa, mas ajuda a desafogar o sistema. Essa opção foi muito usada pelo público dos jogos, que não precisou comprar o bilhete mais caro do trem urbano. Dava para vir apenas com o bilhete normal do metrô.
Referências:
Grand Paris Express, acesso 16/03/2024
Dezeen, acesso 16/03/2024