A primeira filial do Centro Georges Pompidou fora de Paris foi o Pompidou Metz. Metz é um município na região de Lorraine, que já foi ocupada pela Alemanha no passado. Em 2016, a Lorraine foi unida à Champagne-Ardenne e Alsácia e hoje integra uma região maior chamada Grande Leste.
A necessidade de expansão do centro cultural era em parte devido à falta de espaço para o acervo. Cerca de apenas 20% da coleção estava exposta. A maior parte ficava guardada, longe do olhar do público. Fazer uma nova sede era uma maneira de ampliar o espaço expositivo e dar visibilidade ao acervo do museu. A escolha de Metz como cidade sede levou em consideração fatores como a acessibilidade, proximidade do aeroporto e da estação de trem de grande velocidade (TGV).
Assim como Bilbao, que foi transformada pelo Guggenheim de Frank Gehry, Metz não era uma cidade tão conhecida. Um museu espetacular poderia despertar o interesse turístico pelo local, promovendo uma renovação não apenas na escala urbana, mas regional.
Desde a inauguração do Pompidou Metz em 2010, outras filiais foram abertas, como o Pompidou Málaga, em 2015, que já foi tema deste post. Recentemente, foi anunciado que o Pompidou abrirá uma nova sede no Brasil, em Foz do Iguaçu, a partir de 2026. Enquanto isso, o Centro Pompidou original, em Paris, fechará as portas no verão de 2025 para obras de renovação. A previsão para a reabertura é 2030.
Arquitetura
O projeto arquitetônico do Pompidou Metz foi selecionado através de um concurso que contou com 157 candidaturas. A equipe vencedora era composta por Shigeru Ban et Jean de Gastines e Philip Gumuchdjian. Entre os seis finalistas constavam outros grandes nomes da arquitetura, como Herzog et De Meuron, Dominique Perrault e Foreign Office Architects (FOA).
Eu visitei o Pompidou de Metz em fevereiro 2025. Eu fui de trem de Paris e voltei para a capital francesa no mesmo dia. O trem parte da estação Gare de l’Est e o trajeto do TGV dura aproximadamente uma hora e meia. Você chega na estação central de Metz e ao sair, já é possível avistar o museu. Isso mostra o quanto a localização foi pensada para atender um público numa escala nacional e até mesmo internacional. Me lembrou a experiência que vivi em Dundee, na Escócia. Eu estava hospedada em Edimburgo e fui de trem até Dundee só para passar o dia e visitar o museu Victoria & Albert (que também já foi assunto no blog aqui). Assim que saímos da estação de trem de Dundee, já demos de cara com o museu V&A.

Uma passarela e uma praça inclinada ligam a estação ao Pompidou Metz. O paisagismo da praça e dos jardins no entorno do museu levou a assinatura da Agence Nicolas Michelin Associés e Paso Doble (paysagiste). Em 2023, uma renovação do paisagismo foi feita por Gilles Clément e Christophe Ponceau.

Eu fiz a visita com uma amiga arquiteta e ficamos curiosas em ver todas as fachadas do prédio. De fato, as fotos que vemos do Pompidou Metz são sempre do mesmo ângulo, do ponto de vista que temos quando saímos da estação. Trata-se do ângulo mais fotogênico. A forma orgânica da cobertura nos dá a impressão de que ela segue o mesmo estilo por toda a volta mas não é bem o caso. Há claramente uma fachada dos fundos, onde os equipamentos e dutos ficam à vista.


De acordo com Shigeru Ban, ele foi influenciado Guggenheim em Bilbao e sua aqui intenção era criar uma forma escultórica e espetacular. A cobertura de forma orgânica é sustentada por uma trama de madeira que possui um desenho hexagonal, o que remete ao apelido da França (l’héxagon). A trama de madeira lembra também a estrutura de cestos de bambu ou o chapéu de palha chinês.

A malha da estrutura, com sua trama e forma orgânica, permite à cobertura vencer vãos de 40 metros. Trata-se de uma estrutura autoportante. Os pilares do lado de fora parecem arvores que brotam do chão. A estrutura do edifício é mista, de madeira e aço. A madeira utilizada na cobertura foi proveniente da Alemanha. O material da cobertura é uma membrana de fibra de vidro revestida de teflon, que permite a entrada de luz natural no interior de maneira suave e difusa.
A cobertura é coroada por um mastro de 77 metros de altura com uma bandeira no topo. O numero 77 é simbólico, uma referência ao ano em que o Centro Pompidou de Paris, projeto de Renzo Piano e Richard Rogers, foi inaugurado (1977).

A fachada da frente é composta por persianas de vidro que podem ser removidas. A ideia é que o museu se abra para a cidade nos meses de verão. Como eu visitei no inverno, estas estavam fechadas.

Em sua trajetória profissional, Shigeru Ban trabalhou com Frei Otto, mestre das estruturas tensionadas. A influência de Otto é evidente nesta obra. Dentro do museu há algumas maquetes de estudo expostas, revelando um pouco do processo de concepção.



No térreo, vemos as bobinas de papelão, tão utilizadas por Shigeru Ban em seus projetos. Aqui, elas servem de material de revestimento para os balcões da recepção, revestimento de meia altura das paredes e também nos bancos.


Os espaços expositivos foram distribuídos em três volumes de 15 metros de largura por 90 metros de comprimento e pé direito de 5,5m sob as vigas. Nas extremidades dos prismas, imensas janelas emolduram a paisagem. A orientação dos prismas foi considerada para priorizar as visadas e emoldurar importantes pontos turísticos da cidade, como a catedral e a estação central. Estes prismas estão organizados em torno de um eixo vertical de circulação, onde estão as escadas rolantes e o elevador.

Há o espaço das galerias citadas e o espaço entre, um espaço expositivo sob imensa cobertura orgânica. Aqui, o pé direito no ponto mais alto chega a 18 metros. Isso permite que o museu receba grandes instalações neste espaço. Fechamentos em vidro permitem continuidade visual, como entre grande e o eixo de circulação vertical.


Além dos espaços de exposição, o programa inclui ainda um auditório com 144 lugares, um café e restaurante. O café no térreo tinha uma mesas na área externa, mas como estava muito frio para sentar do lado de fora, nós almoçamos no restaurante. Aqui, novamente encontramos as bobinas de papelão, dessa vez transformadas em biombo.


Em 2020, foi instalado na área externa o Paper Tube Studio (PTS), em comemoração aos 10 anos do Pompidou Metz. Esse pavilhão de estrutura de bobinas de papelão também foi projetado pelo Shigeru Ban e foi onde o projeto do museu foi desenvolvido. Durante a concepção até o detalhamento do projeto executivo, o pavilhão ficou instalado dentro do Pompidou Paris. Atulamente, seu espaço interno é ocupado por artistas. Quando eu visitei, a instalação à mostra era do artista Xavier Veilhan.





Como mencionei no início, eu fui e voltei à Metz de Paris em um dia. Com o tempo restrito, eu priorizei a visita ao museu. Não tive tempo de conhecer a cidade. Acho que vale tirar um dia a mais para conhecer a cidade, mas é possível se hospedar em Paris e ir à Metz apenas pelo dia.
Referências:
Archdaily , acesso em 15 de junho 2025
Centre Pompidou, acesso em 6 de Julho, 2025
G1 – Primeira filial do Centre Pompidou na América Latina será no Paraná , acesso em 6 de Julho, 2025