O projeto de arquitetura para a extensão do jardim e do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Gulbenkian foi escolhido a partir de um concurso realizado em 2019. As 12 propostas apresentadas, desenvolvidas por arquitetos como Aires Mateus, Carla Juaçaba e Tatiana Bilbao, podem ser vistas aqui. A versão final selecionada acabou por ser a do japonês Kengo Kuma. O paisagismo ficou a cargo do paisagista libanês Vladimir Djurovic.

A Fundação Gulbenkian é um centro cultural na capital portuguesa criada pelo colecionador e filantropo Calouste Gulbenkian (1869 – 1955). O conjunto arquitetônico data dos anos 1960 e é um patrimônio do movimento moderno. Além dos espaços de exposição, biblioteca, salas de concerto, loja, café e restaurante, a Fundação conta ainda com uma floresta que cobre uma área de sete hectares.



O que me cativa aqui é a estreita relação entre o museu e o seu jardim. Em quase todas as salas é possível ter uma bela vista do exterior. Essa proximidade entre a arte, a arquitetura e a natureza foi preservada no projeto de Kengo Kuma & Associates + OODA + VDLA.
Além da extensão do jardim, o projeto criou uma nova entrada para o museu, pela Rua Marquês de Fronteira. O edifício foi inaugurado em setembro de 2024 e recebeu o prêmio de ‘prédio do ano 2025’ na categoria ‘Arquitetura Cultural’, pelo site Archdaily .

Ao adentrar por este novo acesso, primeiro vemos o jardim projetado por Vladmir Djurovic Landscape Architects (VDLA). Enquanto o paisagismo pré-existente da Fundação é caracterizado por planos, linhas e ângulos retos, o paisagismo de Djurovic introduz formas orgânicas ao lado dos elementos geométricos. Há uma preservação do estilo já característico da Fundação mas trazendo um elemento novo.



Segundo Djurovic, houve uma preocupação em utilizar espécies autóctones para criar uma espécie de mata urbana, com diferentes zonas de densidade. A intenção era proporcionar um maior contato com a natureza local e favorecer a integração entre o homem e o meio natural.
Por trás do lago e das plantas, vemos surgir a cobertura curva ao longo de toda fachada do CAM, com a face em cerâmica branca voltada para fora. Cada face da cobertura é revestida com um material diferente. A face inferior é de madeira enquanto a face externa da cobertura é em cerâmica branca, uma referência à tradição portuguesa de utilizar azulejos em sua arquitetura.

A cobertura serve como portal. No seu ponto mais baixo, ela se aproxima da altura de uma pessoa. Sentimos a arquitetura se aproximar da escala do visitante. O espaço gerado sob a cobertura curva marca a transição entre o jardim e o prédio do Centro de Arte Moderna (CAM), uma construção original de 1983 e de autoria do arquiteto britânico Leslie Martin.

A cobertura é sustentada por vigas curvas em aço. Os pilares, também em aço, possuem uma forma em V invertido. Me fez pensar como se elas fossem silhuetas de pessoas carregando essa imensa estrutura que, apesar do enorme peso e dimensão, transmite uma sensação de leveza pela sua forma.


Esse espaço entre o jardim e o CAM se tornou um lugar de estar e socializar. Durante a minha visita, estava acontecendo uma filmagem para algum programa de entrevistas em uma parte do espaço. O local é bem grande então abarca diferentes usos simultâneos.

A cobertura se desdobra em duas partes; a maior delas é essa ao longo de toda a fachada do CAM; a menor direciona o visitante à entrada do prédio.
O prédio do CAM foi igualmente requalificado pela equipe de Kuma. Além de criar novos espaços como restaurante e loja, o arquiteto melhorou os sistemas de aquecimento e ar condicionado e aprimorou a circulação das galerias através da criação de corredores e escadas. Novas e amplas janelas trouxeram mais luz para o espaço interno, assim como uma maior troca visual entre o espaço expositivo e a nova área externa sob a cobertura. Mais uma vez, foi preservada essa característica da Fundação de sempre trazer o jardim visualmente para o espaço interno.



A cobertura se torna uma espécie de fachada que avança, caracterizando a frente do CAM para o jardim. Kengo Kuma diz que se inspirou no conceito ‘Engawa’, que seria o espaço sob o beiral do telhado, nem dentro do edifício, mas ao mesmo tempo protegido por ele. Neste projeto, o arquiteto valoriza a importância do espaço ‘entre’.
Referências:
Acessos em 2 de março, 2025.