Extensão do Jardim Gulbenkian, Kengo Kuma & Associates + OODA + VDLA | Lisboa
09/03/2025

O projeto de arquitetura para a extensão do jardim e do Centro de Arte Moderna (CAM) da Fundação Gulbenkian foi escolhido a partir de um concurso realizado em 2019. As 12 propostas apresentadas, desenvolvidas por arquitetos como Aires Mateus, Carla Juaçaba e Tatiana Bilbao, podem ser vistas aqui. A versão final selecionada acabou por ser a do japonês Kengo Kuma. O paisagismo ficou a cargo do paisagista libanês Vladimir Djurovic.

Extensão do Jardim da Fundação Gulbenkian, projeto do Kengo Kuma

A Fundação Gulbenkian é um centro cultural na capital portuguesa criada pelo colecionador e filantropo Calouste Gulbenkian (1869 – 1955). O conjunto arquitetônico data dos anos 1960 e é um patrimônio do movimento moderno. Além dos espaços de exposição, biblioteca, salas de concerto, loja, café e restaurante, a Fundação conta ainda com uma floresta que cobre uma área de sete hectares.

Fundação Calouste Gulbenkian (foto tirada em 2018).
Fundação Calouste Gulbenkian – um patrimônio moderno (foto tirada em 2018).
Jardins da Fundação Gulbenkian. Linhas retas e planos são características do projeto paisagístico. (foto tirada em 2018).

O que me cativa aqui é a estreita relação entre o museu e o seu jardim. Em quase todas as salas é possível ter uma bela vista do exterior. Essa proximidade entre a arte, a arquitetura e a natureza foi preservada no projeto de Kengo Kuma & Associates + OODA + VDLA.

Além da extensão do jardim, o projeto criou uma nova entrada para o museu, pela Rua Marquês de Fronteira. O edifício foi inaugurado em setembro de 2024 e recebeu o prêmio de ‘prédio do ano 2025’ na categoria ‘Arquitetura Cultural’, pelo site Archdaily .

Vista da extensão para quem chega pela entrada da Rua Marquês de Fronteira

Ao adentrar por este novo acesso, primeiro vemos o jardim projetado por Vladmir Djurovic Landscape Architects (VDLA). Enquanto o paisagismo pré-existente da Fundação é caracterizado por planos, linhas e ângulos retos, o paisagismo de Djurovic introduz formas orgânicas ao lado dos elementos geométricos. Há uma preservação do estilo já característico da Fundação mas trazendo um elemento novo.

Lago e vegetação compõem o paisagismo do VDLA
Parte baixa da cobertura marca a transição entre jardim e o espaço em frente ao CAM
Formas orgânicas, geométricas e textura no paisagismo

Segundo Djurovic, houve uma preocupação em utilizar espécies autóctones para criar uma espécie de mata urbana, com diferentes zonas de densidade. A intenção era proporcionar um maior contato com a natureza local e favorecer a integração entre o homem e o meio natural.

Por trás do lago e das plantas, vemos surgir a cobertura curva ao longo de toda fachada do CAM, com a face em cerâmica branca voltada para fora. Cada face da cobertura é revestida com um material diferente. A face inferior é de madeira enquanto a face externa da cobertura é em cerâmica branca, uma referência à tradição portuguesa de utilizar azulejos em sua arquitetura.

Cada face da cobertura é revestida por um material diferente.

A cobertura serve como portal. No seu ponto mais baixo, ela se aproxima da altura de uma pessoa. Sentimos a arquitetura se aproximar da escala do visitante. O espaço gerado sob a cobertura curva marca a transição entre o jardim e o prédio do Centro de Arte Moderna (CAM), uma construção original de 1983 e de autoria do arquiteto britânico Leslie Martin.

A cobertura se desdobra em duas partes – a menor delas direciona o visitante à entrada do prédio.

A cobertura é sustentada por vigas curvas em aço. Os pilares, também em aço, possuem uma forma em V invertido. Me fez pensar como se elas fossem silhuetas de pessoas carregando essa imensa estrutura que, apesar do enorme peso e dimensão, transmite uma sensação de leveza pela sua forma.

Ponto baixo da cobertura marca a transição entre o jardim e o vestíbulo do CAM

O espaço sob a cobertura é vasto e permite diferentes usos, como uma filmagem no momento da minha visita.

Esse espaço entre o jardim e o CAM se tornou um lugar de estar e socializar. Durante a minha visita, estava acontecendo uma filmagem para algum programa de entrevistas em uma parte do espaço. O local é bem grande então abarca diferentes usos simultâneos.

Espaço sob a cobertura. Há uma fresta – um respiro – entre a cobertura e a fachada do CAM.

A cobertura se desdobra em duas partes; a maior delas é essa ao longo de toda a fachada do CAM; a menor direciona o visitante à entrada do prédio.

O prédio do CAM foi igualmente requalificado pela equipe de Kuma. Além de criar novos espaços como restaurante e loja, o arquiteto melhorou os sistemas de aquecimento e ar condicionado e aprimorou a circulação das galerias através da criação de corredores e escadas. Novas e amplas janelas trouxeram mais luz para o espaço interno, assim como uma maior troca visual entre o espaço expositivo e a nova área externa sob a cobertura. Mais uma vez, foi preservada essa característica da Fundação de sempre trazer o jardim visualmente para o espaço interno.

Uma das entradas do CAM
Hall do CAM
Os pontos de encontro entre o espaço sob a cobertura e o jardim ou com a fachada do CAM são demarcados por seixos no paisagismo.

A cobertura se torna uma espécie de fachada que avança, caracterizando a frente do CAM para o jardim. Kengo Kuma diz que se inspirou no conceito ‘Engawa’, que seria o espaço sob o beiral do telhado, nem dentro do edifício, mas ao mesmo tempo protegido por ele. Neste projeto, o arquiteto valoriza a importância do espaço ‘entre’.

Referências:

Archdaily 

Archidaily

Observador,

Gulbenkian

Dezeen

Acessos em 2 de março, 2025.