Visitei a Fundação Beyeler, na Suíça, em Julho 2023. O museu tem uma tipologia parecida com outras instituições de arte que conheci nos últimos anos, onde há galerias internas e um imenso jardim que também serve de espaço expositivo. São locais que proporcionam a integração da arte com a natureza e a paisagem do entorno. Alguns exemplos semelhantes são o Museu Voorlinden, em Haia (Países baixos), o Lousiana Museum, em Copenhague (Dinamarca), e Inhotim, em Brumadinho (Brasil). Esse último já foi assunto aqui no blog: Inhotim. São lugares que nos convidam a passar o dia, não somente admirando a arte, mas desfrutando do contato com natureza.

A construção do museu foi patrocinada pelo marchand e colecionador Ernst Beyeler, que tinha como objetivo tornar a sua coleção de arte acessível ao público. A fundação existe desde 1982, quando começou a ser germinada a ideia da criação de um museu. O projeto foi iniciado em 1991 e foi desenvolvido até 1994 pelo escritório Renzo Piano Building Workshop. A construção data de 1994 a 1997.


A Fundação Beyeler fica em Riehen, uma comuna que faz parte do Cantão Basiléia-Cidade, e fica perto da fronteira entre a Suíça e a Alemanha. O acesso ao local é feito pela avenida Basel Strasse, um eixo viário importante por onde é possível vir da Basiléia via tram. O museu foi construído no Parque Berower, onde antigamente ficava a Villa Berower, uma residência unifamiliar que foi preservada e convertida em restaurante e no setor administrativo do museu. Dada a localização original da casa na parte sul do terreno, o prédio do museu ocupa a área restante ao norte.


O lote é relativamente estreito e comprido. O projeto, portanto, possui uma implantação linear, ocupando o centro do terreno e concentrando os jardins nas duas extremidades. Sua planta é composta por quatro paredes paralelas, com 127 metros de comprimento, que percorrem o terreno no sentido norte-sul e são espaçadas aproximadamente 7 metros entre si. Dentro dessas paredes, há uma malha de pilares de concreto. Essas paredes são como a espinha dorsal do projeto, encerrando as galerias de exposição. As galerias variam de largura, mas possuem todas o mesmo pé direito de 4,80 metros.

Apesar da planta linear, o percurso interno é relativamente livre, o que permite ao visitante de perambular e escolher o seu próprio percurso.
O acesso ao interior é feito pela fachada sul. Logo antes da entrada (foto acima, à esquerda) , há uma unidade independente onde se encontra a bilheteria. Além das salas com a coleção permanente, há 2,700 metros quadrados para exposições temporárias. Quando eu visitei, estava acontecendo uma da Doris Salcedo, que foi de maio a setembro de 2023.


O revestimento das paredes, tanto em partes do interior quanto no exterior, é uma pedra vulcânica chamada Porphyry, proveniente da patagônia. Sua tonalidade avermelhada lembra uma pedra regional, que reveste a fachada da catedral de Basiléia, mas a Porphyry é bem mais resistente às intempéries.

A cobertura foi provavelmente o elemento mais desafiador do projeto. O cliente fazia questão de dois pontos no projeto: uma integração do prédio com o entorno, de modo que a construção se integrasse com as árvores do parque, e que a iluminação das galerias fosse zenital. Coube ao arquiteto conceber uma cobertura que permitisse a passagem de luz, mas que a filtrasse ao mesmo tempo, de modo a proteger as obras de arte. Foram pensadas diferentes camadas de vidro que filtram 50% da luz incidente. Painéis inclinados de vidro serigrafados direcionam a entrada da luz do norte e barram as luzes de leste e oeste. Uma segunda camada de painéis de vidro cria uma câmara de ar que ajuda na regulação da luz e da temperatura, além de facilitar a manutenção. Por baixo dessas camadas, há ainda uma camada de painéis metálicos perfurados com um tecido por dentro, o que permite a difusão da luz natural pelo espaço interno. Os beirais da cobertura se estendem lateralmente, protegendo as fachadas de vidro da incidência de luz direta. A estrutura metálica em aço transmite uma leveza que contrasta com o peso das paredes em pedra – a cobertura parece flutuar.


Para concentrar toda a coleção em um mesmo pavimento e criar um lago ao sul, foi necessário enterrar o prédio. Isso conferiu ao museu uma maior integração com terreno e um caráter mais intimista. De dentro das galerias, é possível admirar simultaneamente a arte e a natureza ao redor, o que é possível também graças às grandes fachadas de vidro.



Ao longo da fachada oeste, que tem vista para um campo, há um corredor com sofás, o que oferece um lugar de descanso e contemplação da paisagem. O visitante é convidado a desfrutar do lugar, e não apenas visitar a exposição.
A seguir, algumas imagens de obras de arte presentes no jardim:


Referências:
Beyeler Foundation Museum, Riehen – Renzo Piano Building Workshop | Arquitectura Viva, Acesso em 24/02/2024
Fondazione » Beyeler Foundation Museum (fondazionerenzopiano.org), Acesso em 24/02/2024
Architecture and Nature (fondationbeyeler.ch) Acesso em 24/02/2024
Renzo Piano’s Foundation Beyeler, from the Domus archive – Domus (domusweb.it) Acesso em 24/02/2024