Eu visitei a Fundação Joan Miró pela obra do artista, mas fui completamente arrebatada pela arquitetura do museu. O projeto leva a assinatura de Josep Lluis Sert, arquiteto que era um grande amigo de Miró. Sert estudou na Escuela Técnica Superior de Arquitectura de Barcelona e foi o fundador do GATPAC (Grup d’Arquitectes i Tècnics per al Progrés de l’Arquitectura Contemporània), em 1929.
A Fundação Joan Miró fica no morro Montjuic, então desfruta de uma vista privilegiada sobre a cidade de Barcelona. A fundação foi inaugurada em 1975 e seu programa inclui espaços de exposição para a coleção permanente e mostras temporárias, restaurante/café, lojas, salas de administração, além de serviços como bilheteria e guarda-volumes.
No jardim, em frente à entrada, há uma grande escultura de Alexander Calder. Sua cor vermelha gera um belo contraste com o prédio branco ao fundo. Ao adentrar no museu, à esquerda vemos a bilheteria e, em frente, um pátio interno. Graças aos grandes planos de vidro que encerram o pátio em ambos os lados, é possível avistar a paisagem do outro lado, ao fundo. A sucessão dos planos de vidro permite a visualização cruzada entre vários ambientes. Um segundo pátio interno, à direita, oferece acesso ao terraço do café.
Quando visitei a fundação, não havia uma exposição temporária. Eu visitei apenas a coleção permanente, cuja entrada é realizada ao lado da bilheteria. Ao percorrer o espaço expositivo, fui percebendo que as salas possuem dimensões e pés-direitos variados. É como se cada ambiente tivesse sido pensado para obras específicas do artista. De fato, diz-se que este foi um projeto desenvolvido à quatro mãos, com muitas trocas entre o arquiteto e o artista. Um museu concebido especialmente para as obras de Miró.
Essa sinergia entre espaço e obras de arte torna-se evidente ao caminhar. As curvas do teto abobadado entram em harmonia com as figuras das pinturas de Miró. Os espaços expositivos alternam entre salas menores, dedicadas a uma única pintura de grandes dimensões, por exemplo, ou salas compridas, onde estão dispostas várias obras pequenas.
A disposição das paredes permite a visualização entre ambientes. É possível estar em uma sala e ver quadros em outro espaço mais à frente. Isso acontece também com os jardins dos pátios, que podem ser vistos dos espaços de exposição, através dos planos de vidro. As salas de exposição foram organizadas ao redor destes pátios, o que permite um fluxo contínuo ao visitante, sem precisar voltar para as salas já visitadas. A semelhança de materiais do piso da área interna e externa reforçam esse sentimento de continuidade entre dentro e fora.
Terraços permitem a apreciação da vista de Barcelona, além de colocar as esculturas de Miró em evidência e promover um diálogo entre a arte e a paisagem.
Essa continuidade é preservada também nos momentos de mudanças de nível. A transição entre níveis é feita de forma suave e acessível através de rampas e escadas. O piso marrom escuro, em contraste com as paredes brancas, traz um frescor ao ambiente.
A exposição continua no segundo andar. A subida é feita por uma rampa que contorna todo o perímetro de uma sala com pé direito duplo. Com isso, é possível visualizar as obras deste ambiente à uma distância maior e a partir de outra perspectiva. No nível térreo, recuos e avanços colocam as estatuas em evidencia e oferecem uma continuidade visual entre quem está na galeria e quem está no terraço do café.
A iluminação das salas é garantida pela existência de sheds na cobertura, que oferecem uma entrada de luz natural suave, difusa e indireta, que reforçam as curvas do teto abobadados. A luz é filtrada pelo uso de cortinas.
A cobertura é aberta à visitação. Lá, estavam dispostas várias esculturas de Joan Miró. Novamente, o diálogo entre as formas da arte de Miró e a arquitetura de Sert é ressaltado. O perfil arredondado dos sheds entram em sintonia com as esculturas de Miró. Nesse momento, a paisagem de Barcelona surge como um terceiro elemento neste diálogo, trazendo cor e profundidade à composição.
No final da visita, a descida pode ser realizada por uma escada que avança na fachada do pátio interno que leva ao terraço, onde o visitante pode encerrar o seu passeio com um café.
Referências:
Todos os sites foram acessados em 27 de setembro, 2024