Musée Quai Branly, Jean Nouvel
23/05/2011

De modo semelhante à Fundação Cartier, outro projeto em Paris também assinado por Jean Nouvel, o Musée Quai Branly respeita o afastamento da rua criando uma grande fachada de vidro ao longo da calçada.  Depois, entre esta fachada e o prédio em si, há um gigantesco jardim de uma natureza um tanto selvagem que chega a esconder parcialmente o objeto.  Esse, no entanto, não chega a ser camuflado devido às suas cores fortes – vermelhas, laranja, verde, amarelo e marrom – que fazem uma alusão ao conteúdo do acervo.  Trata-se de um museu de artes de civilizações africanas, orientais e americanas.

Jardim Vertical na fachada do museu Blocos de Cores fortes avançam na fachada

Para adentrar o prédio, atravessamos um grande vão sob o mesmo e subimos uma rampa externa que nos leva à entrada. Ou seja, o acesso é feito já no nível do primeiro pavimento.  O percurso do museu é todo organizado em rampa mas, diferente do Guggenheim de F.L. Wright em Nova Iorque, onde a rampa circula em torno de um grande vão, a rampa nesse caso é a espinha dorsal do projeto, seguindo a forma longitudinal do edifício.

Para acessar os níveis das exposições, sobe-se essa rampa por um percurso longo e sinuoso. Temos a impressão de passar por uma espécie de preparação, quase como um momento de transição.  A ideia de que estamos embarcando para um outro mundo, possivelmente em outro tempo.  Na mostra permanente, o percurso permite ao visitante escolher qual o caminho e qual a ordem que ele prefere seguir.  Ele nos direciona, porém permite uma variedade de escolhas no trajeto.

As exposições temporárias ficam nos mezaninos.  Estes são espaços que se organizam perifericamente, recebendo então iluminação natural das aberturas das fachadas (voltadas para noroeste e sudeste).  Há pequenos corredores no seio destes espaços de exposição.  Revestidos por uma pedra negra polida, aqui encontram-se os banheiros e o núcleo dos elevadores.  Achei esses espaços extremamente impactantes.   Um buraco, uma lacuna, contrastando violentamente com a luz esverdeada e difusa do ambiente do outro lado da parede.

E neste momento vivenciei um sentimento semelhante ao que tomou conta de mim quando visitei o Reina Sofia em Madrid, outra obra do Nouvel, ou até mesmo a minha aversão inicial ao seu projeto para o Guthrie theatre, em Minneapolis, Minnesota.  Os espaços de Nouvel são extremamente eloquentes e dramáticos. Tanto no uso da cor e dos materiais empregados, quanto na sua capacidade de direcionar o nosso olhar no espaço, as perspectivas que ele cria ao longo do percurso e os momentos de transição e de contemplação.

Próxima parada: Instituto do Mundo Árabe.

A Torre Eiffel na paisagem, emoldurada pela arquitetura