Visitei recentemente a exposição sobre o arquiteto Harry Seidler, no Museu da Casa Brasileira, em São Paulo. A exposição, que foi encerrada no dia 06 de Abril, está agora a mostra no Rio de Janeiro na sede do Instituto dos Arquitetos (IAB-RJ), no Flamengo. A exposição conta com vídeos de entrevistas e documentários sobre o arquiteto, além de fotografias, maquetes e textos descritivos sobre as suas obras.
Nascido de família judaíca e natural de Viena, o arquiteto se mudou para a Inglaterra em 1938, logo após a ocupação da Áustria pelos Nazistas. Foi preso em 1940 pelas autoridades britânicas sob a acusação de ser um ‘inimigo estrangeiro’ e foi entáo deportado ao Canadá. Conseguiu liberdade condicional para cursar arquitetura na Universidade de Manitoba, em Winnipeg, seguindo depois para fazer mestrado em Harvard, onde foi aluno de Walter Gropius e Marcel Breuer, com quem veio a contribuir em seu escritório em Nova Iorque. Após alguns anos trabalhando com Breuer, recebeu uma proposta de sua mãe para projetar-lhe uma casa na Australia. Ele aceitou e, logo antes de se mudar definitivamente para a Australia, chegou a passar alguns meses no Rio de Janeiro trabalhando com Oscar Niemeyer.
As Casas de Seidler
A casa que projetou para a sua mãe apresentava de maneira clara os princípios modernistas que Seidler defendia – traços retos, formas puras, estrutura de concreto, telhado plano, janelas em fita e a importância do percurso. A casa chamou a atenção e Seidler logo começou a receber novas demandas de projeto. Com isso, o arquiteto começou na década de 50 um trabalho de residências que se estendeu ao longo de toda a sua carreira.
Seidler trazia ideias novas e desde o princípio se posicionou de maneira forte dentro do mercado australiano. Considerava os escritórios locais ultrapassados e se comprometeu a criar novos padrões de uma arquitetura contemporânea progressista. Além de seguir a metodologia que aprendeu com Gropius, sua arquitetura trazia uma grande reflexão sobre a aplicação dos materiais, uma noção adquirida pelo contato com Breuer, além de influências da linguagem estrutural de Pier Luigi Nervi e uma fluidez formal de Niemeyer.
Com o tempo, surgiram projetos que iam além da escala das residências unifamiliares. Além de habitações residenciais mutifamiliares, como o Horizon Apartments (1998), Harry Seidler recebeu a comissão para projetar a embaixada da Australia em Paris, o MLC Center (1975) em Sydney, cuja estrutura foi concebida em parceria com o engenheiro Pier Luigi Nervi, o Australia Square (1967) e o Clube de Hong Kong (1980-84).
É interessante ver como Harry Seidler defendeu os princípios modernistas ao longo de toda a sua carreira. O arquiteto permaneceu sempre coerente em sua linha de pesquisa, defendendo o modernismo não apenas pela sua qualidade estética mas também por sua metodologia e linha de pensamento. Mesmo assim, Seidler desenvolveu um conjunto de obras bastante variado, tanto em termos de programa quanto de formas – ele dificilmente repetia uma mesma solução em diferentes projetos.
Essa exposição foi uma boa surpresa. Pouco é discutido sobre a arquitetura Australiana nas faculdades brasileiras e é interessante descobrir outros desdobramentos do movimento moderno para além da Europa, EUA e Brasil. A exposição fica em cartaz no IAB-RJ, na Rua do Pinheiro, nº10, até o dia 16 de Maio.