Uma das visitas mais esperadas nesta minha ida a Estocolmo: a Biblioteca de Gunnar Asplund. Lembro-me de estudar este projeto no quarto período da faculdade – o semestre em que tivemos que projetar uma biblioteca. Busquei inspiração neste projeto pois fascinava-me a ideia de ter o acervo de livros todo exposto aos visitantes, algo que nem sempre acontece nas bibliotecas. Aqui, o visitante é completamente rodeado pelos livros, de modo semelhante ao que acontece no Real Gabinete de Leitura Portuguesa, no Rio de Janeiro.
Ao avistar o objeto na paisagem, a primeira característica que sobressai é o seu tom alaranjado. A sobriedade de sua composição geométrica, suas formas puras e sua proporção são contrastadas pelo laranja vibrante que reveste todo o objeto. Sua predominância na silhueta da cidade é salientada pela sua escala e pelo fato do objeto estar elevado sobre um grande patamar. O acesso à biblioteca é realizado através de uma grande rampa que emoldura o percurso de entrada.
O pórtico e as fachadas do edifício trazem influências egípcias no desenho dos seus ornamentos. Tais elementos atribuem dramaticidade e textura a uma fachada de linhas retas que, sem algum tratamento que a humanize, corre o risco de se tornar monótona e desinteressante.
O tom alaranjado é preservado no interior. O tom da madeira do mobiliário e o marrom da paginação de piso puxam para a cor laranja, estabelecendo uma coerência com o tratamento de fachada. É interessante perceber também que a paginação de piso no centro da rotunda replica o desenho da planta geral do edifício: círculos inscritos num quadrado representam a rotunda e o embasamento. Em outras palavras, o mesmo conceito prevalece através das diferentes escalas do edifício, seja no desenho da fachada, na implantação do edifício ou no desenho do piso.
O livro é o grande protagonista do espaço. Ele assume o primeiro plano, dando vida ao ambiente. De fato, o espaço se adapta em função do mesmo. Ao mesmo tempo em que as estantes organizadas 360° a nossa volta nos apequenam, quando nos aproximamos delas, elas adquirem a proporção do corpo humano. A escala majestosa, amplificada pela planta circular, se adequam ao nosso tamanho através das passarelas, de suas escadas e corredores. Estes caminhos nos levam às estantes onde todos os livros estão ao nosso alcance – não é necessário subir numa escada ou em um banco para alcançar o volume desejado.
Aos meus olhos, a grande beleza desse projeto jaz exatamente nessa relação que aqui conseguimos ter com os livros. Desfrutamos de uma completa liberdade para andar entre as estantes, folhear os livros, sentar no chão… Achei que fossem chamar a minha atenção por estar fotografando dentro da biblioteca mas isso em momento algum aconteceu. Eventualmente percebi que, contanto que você não roube livros ou incomode os demais, você está livre para desfrutar do espaço. Enquanto inúmeras outras bibliotecas possuem atmosferas austeras, controladas e labirínticas, a sensação que impera aqui é de leveza. Você se sente tranquilo para demorar o tempo que for e desfrutar do espaço. Sem dúvida, o desenho agregador de Asplund contribuiu para esta ocupação democrática do espaço.