O complexo Vitra fica em Weil am Rhein, uma cidade alemã perto da fronteira com a Suíça. Saindo da Basiléia, é possível pegar um bonde de 20 minutos até a estação final. De lá, o museu fica a uns 10 minutos a pé. O caminho até o campus é bem-sinalizado e, ao longo do trajeto, já avistamos alguns exemplares do design produzido pela Vitra – como as miniaturas de cadeiras icônicas assinadas por Charles e Ray Eames ou por Alvar Aalto.
Vitra é uma empresa Suíça, fundada em 1934, que vende e produz móveis e objetos de design. Trata-se de uma empresa familiar que já está em sua terceira geração. Começou como uma loja que vendia móveis para o comércio. A representação de grandes nomes do design começou nos anos 50. Em 1952, o dono Willi Fehlbaum viajou à Nova Iorque, onde ele viu a cadeira Eames, assinada por Charles e Ray Eames. Encantado com o design, ele negociou com a Herman Miller (empresa que detém os direitos da venda nos EUA) os direitos de vender a peça na Europa. Desde então, a Vitra foi comprando licenças para produzir outros móveis de grandes nomes do design, como Jean Prouvé ou Verner Panton. Hoje, a Vitra trabalha também com designers que desenvolvem produtos originais e exclusivos para a marca.
Embora a empresa seja originalmente Suíça, a esposa do fundador era alemã e sua família era proprietária deste terreno em Weil am Rhein, por isso resolveram construir o campus aqui. Em 1977, o casal Fehlbaum passou a responsabilidade pela empresa aos seus filhos, Roy e Raymond Fehlbaum.
Em 1981, houve um grande incêndio no local. Com isso, surgiu a necessidade de reconstruir tudo. O masterplan do campus, assim como o primeiro prédio a ser construído após o incêndio, foi concebido pelo Grimshaw Architects. A ideia inicial era criar uma identidade da Vitra e preservá-la nas construções seguintes. Esse conceito mudou poucos anos depois, quando os irmãos Fehlbaum conheceram o trabalho de Frank Gehry.
Encantados, os irmãos Fehlbaum convidaram-no para projetar um prédio para o campus. Inaugurado em 1989, esse foi o primeiro prédio de Gehry construído fora dos EUA. Começou então um movimento de tornar o Vitra Campus um lugar de experimentação em termos de arquitetura, além do design.
Desde o incêndio, havia a necessidade de construir um prédio que abrigasse os bombeiros dentro do campus. Zaha Hadid foi a arquiteta convidada para concebê-lo. Foi uma aposta da Vitra pois, embora Zaha já fosse reconhecida desde o final dos anos 70 como uma arquiteta com imenso potencial, ela ainda não tinha nada construído. A estação dos bombeiros, inaugurada em 1993, foi uma das suas primeiras obras a sair do papel. Esse voto de confiança foi uma oportunidade que a rendeu a visibilidade necessária para que a sua carreira deslanchasse nos anos seguintes.
Hoje os bombeiros da municipalidade cobrem a área do campus então não há mais a necessidade de tê-los no local. Com isso, o prédio de Zaha foi convertido em espaço de eventos e exposições temporárias.
No mesmo ano, foi também inaugurado o Centro de Conferências, de Tadao Ando. Esse foi o seu primeiro prédio construído fora do Japão. O Centro de Conferências não fica dentro do campus logístico, porém bem próximo. Seu espaço com frequência é alugado para terceiros para a realização de eventos externos.
O prédio se esconde parcialmente sob as árvores cerejeiras. As paredes de concreto aparente se estendem para além da construção, abraçando o percurso da entrada e amenizando os ruídos do entorno. O caminho até o acesso segue rente a essa parede de concreto. A largura da passagem é estreita, o que faz com que as pessoas andem uma atrás da outra. Com isso, elas param de conversar já que não andam lado a lado. A arquitetura propicia um momento de silêncio e introspecção antes de adentrar o prédio. As dimensões do projeto seguem o módulo do tatame (90x180cm).
Em 1994, foi construído um prédio para a produção, concebido pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira. O edifício, cuja fachada é inteiramente revestida por tijolos, é recuado em relação ao meio fio. A implantação foi uma escolha deliberada do arquiteto, pois o maior afastamento não obstrui a visão sobre a estação de bombeiros de Zaha, concluída um ano antes.
SANAA é um escritório japonês, fundado por Kazuyo Seijima e Ryue Nishizawa, muito conhecido por seus projetos de centros culturais. Seu projeto para o Louvre Lens já foi inclusive assunto aqui no blog. Para o campus Vitra, eles foram desafiados a conceber um novo tipo de programa – um centro de logística. A unidade de 20 mil metros quadrados possui uma planta em forma orgânica e oval. A fachada de concreto pré-moldado é revestida por painéis ondulados de plexiglas acrílico, com 11 metros de altura, 1,8m de largura e uma espessura de 6mm. O 1mm do fundo é pintado de branco e os 5mm da frente são transparentes, o que atribui uma camada reflexiva à fachada. Nos dias de sol, o prédio reflete a luz e surge branco. Nos dias nublados, o prédio se camufla com o entorno. Ele varia o aspecto de acordo com o clima.
Os painéis ondulados lembram cortinas, como se o prédio fosse um grande teatro. Temos a impressão de que o invólucro esconde a parte do ‘backstage’, todo o ‘making off’ da Vitra. Mesmo se tratando de um programa industrial, o projeto traz uma poesia para o processo de produção. Há aqueles que acham que o centro de distribuição também parece uma calota polar.
Em 2010 foi inaugurado o Vitrahaus, projeto de Herzog e de Meuron. Trata-se de uma composição de 12 prismas, cujas seções se assemelham ao estereótipo de ‘casinhas’. O Vitrahaus reúne uma loja, restaurante e um ‘showroom’, com ambientes decorados com os móveis Vitra. Aqui encontramos também uma linha do tempo da história da empresa, uma biblioteca com livros sobre os designers e arquitetos parceiros, e exposições dos objetos separados por autor. Em frente ao prédio, há um belíssimo jardim desenhado pelo paisagista holandês Piet Oudolf.
O segundo projeto de Herzog et de Meuron para o complexo, o Schaudepot, foi inaugurado poucos anos depois, em 2016. Sua fachada é revestida por tijolos partidos ao meio, cujo interior foi virado para fora. Os arquitetos optaram por revelar uma parte do material que geralmente fica escondida. Essa solução atribui uma textura e um movimento único à fachada. No interior, um mostruário dos móveis do Vitra organizados por cor.
Além dos diversos prédios aqui listados, o complexo contra também com obras de arte, como o escorrega de Carsten Holler.
Hoje, a empresa Vitra já está em sua terceira geração, sendo presidida por Nora Fehlbaum desde 2012. Quando eu visitei o campus, fiz o tour de arquitetura. Os tours duram em torno de 2 horas e estão disponíveis nos idiomas inglês, alemão e francês.