Vitra Campus | Weil Am Rhein
17/10/2023

O complexo Vitra fica em Weil am Rhein, uma cidade alemã perto da fronteira com a Suíça. Saindo da Basiléia, é possível pegar um bonde de 20 minutos até a estação final. De lá, o museu fica a uns 10 minutos a pé. O caminho até o campus é bem-sinalizado e, ao longo do trajeto, já avistamos alguns exemplares do design produzido pela Vitra – como as miniaturas de cadeiras icônicas assinadas por Charles e Ray Eames ou por Alvar Aalto.

Miniatura da poltrona de Alvar Aalto
Miniatura da cadeira de Charles e Ray Eames
Miniatura da cadeira Panton

Vitra é uma empresa Suíça, fundada em 1934, que vende e produz móveis e objetos de design. Trata-se de uma empresa familiar que já está em sua terceira geração. Começou como uma loja que vendia móveis para o comércio. A representação de grandes nomes do design começou nos anos 50. Em 1952, o dono Willi Fehlbaum viajou à Nova Iorque, onde ele viu a cadeira Eames, assinada por Charles e Ray Eames. Encantado com o design, ele negociou com a Herman Miller (empresa que detém os direitos da venda nos EUA) os direitos de vender a peça na Europa. Desde então, a Vitra foi comprando licenças para produzir outros móveis de grandes nomes do design, como Jean Prouvé ou Verner Panton. Hoje, a Vitra trabalha também com designers que desenvolvem produtos originais e exclusivos para a marca.

Mostruário de alguns exemplares de design da Vitra

Embora a empresa seja originalmente Suíça, a esposa do fundador era alemã e sua família era proprietária deste terreno em Weil am Rhein, por isso resolveram construir o campus aqui. Em 1977, o casal Fehlbaum passou a responsabilidade pela empresa aos seus filhos, Roy e Raymond Fehlbaum.

Em 1981, houve um grande incêndio no local. Com isso, surgiu a necessidade de reconstruir tudo. O masterplan do campus, assim como o primeiro prédio a ser construído após o incêndio, foi concebido pelo Grimshaw Architects. A ideia inicial era criar uma identidade da Vitra e preservá-la nas construções seguintes. Esse conceito mudou poucos anos depois, quando os irmãos Fehlbaum conheceram o trabalho de Frank Gehry.

Prédio do Grimshaw Architects

Encantados, os irmãos Fehlbaum convidaram-no para projetar um prédio para o campus. Inaugurado em 1989, esse foi o primeiro prédio de Gehry construído fora dos EUA. Começou então um movimento de tornar o Vitra Campus um lugar de experimentação em termos de arquitetura, além do design.

Prédio de Frank Gehry
O prédio de Gehry originalmente abrigava a coleção permanente e hoje recebe as exposições temporárias.

Desde o incêndio, havia a necessidade de construir um prédio que abrigasse os bombeiros dentro do campus. Zaha Hadid foi a arquiteta convidada para concebê-lo. Foi uma aposta da Vitra pois, embora Zaha já fosse reconhecida desde o final dos anos 70 como uma arquiteta com imenso potencial, ela ainda não tinha nada construído. A estação dos bombeiros, inaugurada em 1993, foi uma das suas primeiras obras a sair do papel. Esse voto de confiança foi uma oportunidade que a rendeu a visibilidade necessária para que a sua carreira deslanchasse nos anos seguintes.

Fire Station, projeto de Zaha Hadid

Hoje os bombeiros da municipalidade cobrem a área do campus então não há mais a necessidade de tê-los no local. Com isso, o prédio de Zaha foi convertido em espaço de eventos e exposições temporárias.

Paredes inclinadas dão a percepção de movimento.

 

Banheiros da antiga estação de bombeiros

No mesmo ano, foi também inaugurado o Centro de Conferências, de Tadao Ando. Esse foi o seu primeiro prédio construído fora do Japão. O Centro de Conferências não fica dentro do campus logístico, porém bem próximo. Seu espaço com frequência é alugado para terceiros para a realização de eventos externos.

Centro de Conferências de Tadao Ando

O prédio se esconde parcialmente sob as árvores cerejeiras. As paredes de concreto aparente se estendem para além da construção, abraçando o percurso da entrada e amenizando os ruídos do entorno. O caminho até o acesso segue rente a essa parede de concreto. A largura da passagem é estreita, o que faz com que as pessoas andem uma atrás da outra. Com isso, elas param de conversar já que não andam lado a lado. A arquitetura propicia um momento de silêncio e introspecção antes de adentrar o prédio. As dimensões do projeto seguem o módulo do tatame (90x180cm).

Caminho rente à parede de concreto
Acesso estreito ao Centro de Conferências

 

Pátio interno

Em 1994, foi construído um prédio para a produção, concebido pelo arquiteto Álvaro Siza Vieira. O edifício, cuja fachada é inteiramente revestida por tijolos, é recuado em relação ao meio fio. A implantação foi uma escolha deliberada do arquiteto, pois o maior afastamento não obstrui a visão sobre a estação de bombeiros de Zaha, concluída um ano antes.

Prédio de Siza Vieira com Estação de Bombeiros, de Zaha Hadid, ao fundo.

SANAA é um escritório japonês, fundado por Kazuyo Seijima e Ryue Nishizawa, muito conhecido por seus projetos de centros culturais. Seu projeto para o Louvre Lens já foi inclusive assunto aqui no blog. Para o campus Vitra, eles foram desafiados a conceber um novo tipo de programa – um centro de logística. A unidade de 20 mil metros quadrados possui uma planta em forma orgânica e oval. A fachada de concreto pré-moldado é revestida por painéis ondulados de plexiglas acrílico, com 11 metros de altura, 1,8m de largura e uma espessura de 6mm. O 1mm do fundo é pintado de branco e os 5mm da frente são transparentes, o que atribui uma camada reflexiva à fachada. Nos dias de sol, o prédio reflete a luz e surge branco. Nos dias nublados, o prédio se camufla com o entorno. Ele varia o aspecto de acordo com o clima.

Centro de logística, SANAA
Detalhe da fachada com chapas de plexiglas ondulado

Os painéis ondulados lembram cortinas, como se o prédio fosse um grande teatro. Temos a impressão de que o invólucro esconde a parte do ‘backstage’, todo o ‘making off’ da Vitra. Mesmo se tratando de um programa industrial, o projeto traz uma poesia para o processo de produção. Há aqueles que acham que o centro de distribuição também parece uma calota polar.

Em 2010 foi inaugurado o Vitrahaus, projeto de Herzog e de Meuron. Trata-se de uma composição de 12 prismas, cujas seções se assemelham ao estereótipo de ‘casinhas’. O Vitrahaus reúne uma loja, restaurante e um ‘showroom’, com ambientes decorados com os móveis Vitra. Aqui encontramos também uma linha do tempo da história da empresa, uma biblioteca com livros sobre os designers e arquitetos parceiros, e exposições dos objetos separados por autor. Em frente ao prédio, há um belíssimo jardim desenhado pelo paisagista holandês Piet Oudolf.

Vitrahaus visto do jardim de Piet Oudolf
Vitrahaus, projeto de Herzog et De Meuron
Sob os balanços do Vitrahaus

O segundo projeto de Herzog et de Meuron para o complexo, o Schaudepot, foi inaugurado poucos anos depois, em 2016. Sua fachada é revestida por tijolos partidos ao meio, cujo interior foi virado para fora. Os arquitetos optaram por revelar uma parte do material que geralmente fica escondida. Essa solução atribui uma textura e um movimento único à fachada. No interior, um mostruário dos móveis do Vitra organizados por cor.

Schaudepot abriga mostruário de peças de design
Schaudepot preserva mesma tonalidade de construção anterior adjacente
Schaudepot fica ao lado da estação de bombeiros, da Zaha Hadid
Schaudepot possui fachada e embasamento em tijolo
Detalhe dos tijolos da fachada
Mostruário organizado por cor
Quarta, cadeira desenhada por Mario Botta

Além dos diversos prédios aqui listados, o complexo contra também com obras de arte, como o escorrega de Carsten Holler.

Instalação Carsten Holler

Hoje, a empresa Vitra já está em sua terceira geração, sendo presidida por Nora Fehlbaum desde 2012. Quando eu visitei o campus, fiz o tour de arquitetura. Os tours duram em torno de 2 horas e estão disponíveis nos idiomas inglês, alemão e francês.