Louvre Lens, SANAA + Imrey Culbert
12/11/2020

Eu já escrevi sobre o Louvre de Paris (uma construção original do século XII que foi renovada pelo arquiteto I.M.Pei nos anos 1980) e até mesmo sobre o Louvre Abu Dhabi (um projeto de Jean Nouvel). Hoje o assunto é a sede do Louvre em Lens, uma cidade de trinta mil habitantes ao norte de Paris. O projeto vencedor do concurso de arquitetura, promovido em 2006, é uma cooperação entre os escritórios SANAA, do Japão, e o Nova Iorquino Studio Imrey Culbert.

O terreno escolhido para a implantação sediava uma antiga mina de carvão, desativada desde os anos 1960. De modo semelhante ao que ocorreu em Bilbao, ao trazer uma filial do museu mundialmente conhecido à pequena cidade de Lens, o objetivo foi fomentar o turismo e revitalizar esse centro urbano pós-industrial.

Devido à proximidade da capital francesa, é possível se hospedar em Paris e ir e voltar de Lens em um mesmo dia. A viagem para lá é bem tranquila. Saindo da estação ‘Gare du Nord’, o trajeto de trem dura pouco mais de 1 hora. O museu fica a dois quilômetros da estação então é possível ir a pé e o caminho é muito bem sinalizado.

Eu visitei o Louvre Lens pouco após a sua inauguração, em fevereiro de 2013, então as minhas fotos estão um pouco desatualizadas. Era inverno e estava bastante frio naquele dia. Quando chegamos, o local estava coberto por uma neblina. Isso atrapalhou um pouco a nossa visibilidade mas, por outro lado, foi impressionante observar como a arquitetura praticamente sumia na paisagem. Durante o dia, o tempo foi abrindo então também foi interessante observar como o prédio se transforma sob a luz do sol.

As fachadas são revestidas por painéis de alumínio que proporcionam um reflexo borrado. À medida que o céu foi ficando azul, a imagem do entorno refletida na fachada se tornou mais nítida. As placas de alumínio revestem grande parte da fachada e são sustentados por uma estrutura de aço.

Apesar da impressão que temos pelas fotos, as formas do projeto não são totalmente retas. As superfícies são levemente curvas, a ponto de não serem muito rígidas, mas também não são orgânicas o suficiente a ponto de atrapalhar no funcionamento do espaço interno. O terreno tem um certo declive então a distorção também ajuda a contrapor essa característica.

O projeto é composto por cinco volumes, dispostos de uma maneira sequencial. Quatro deles são retangulares – esses recebem as galerias de exposição e o auditório – e o quinto volume é um quadrado central que articula os demais. É por este volume central que é feito o acesso ao museu.

Ao adentrar o Louvre, nos encontramos em um grande espaço livre coberto, uma espécie de praça que agrupa diferentes usos como hall, bilheteria, café e livraria. Alguns destes espaços são contidos em núcleos de planta circular, encerrados por painéis de vidros curvos.

Núcleos contidos por painéis de vidros curvos

O museu conta com duas grandes galerias – uma para a coleção permanente (com 125 metros de comprimento) e outra para as exposições temporárias. As paredes das galerias são revestidas pelos mesmos painéis de alumínio que observamos na fachada, estabelecendo uma continuidade entre o interior e o exterior. Diferente do efeito das paredes pintadas de branco, o alumínio gera um reflexo fosco. Os limites da sala se tornam difusos. A iluminação natural adentra o espaço através de painéis na cobertura, que filtram a luz para que não haja uma incidência direta e também podem ser alterados conforme o dia.

A acervo é dividido em três fases: Antiguidade, idade média e idade moderna. Um dos destaques do acervo é a pintura “A Liberdade guiando o povo” de Eugène Delacroix. O quadro chegou a sofrer um ato de vandalismo no início de 2013 mas a intervenção foi superficial e rapidamente removida.

A maior parte do museu é no nível térreo, uma solução amplamente acessível. No subsolo, foram alocados os espaços de depósito e serviços que podem ser acessados pelo hall central.

Os jardins foram assinados pela paisagista Catherine Mosbach.  Eles preservam a mesma linguagem de núcleos arredondados no piso como aqueles que conferimos no hall central. A museologia foi desenvolvida pelo Studio Adrien Gardère.

Paris é sem dúvida um destino repleto de opções, mas aos que estiverem pela região e quiserem fazer um passeio diferente, o Louvre Lens é uma ótima pedida. Além da riqueza do acervo, a sensibilidade e delicadeza da arquitetura de SANAA e Imrey Culbert vale ser presenciada.