Victoria and Albert, Kengo Kuma | Dundee, Escócia
14/10/2019

A primeira filial do museu Victoria and Albert fora de Londres foi inaugurada em Setembro de 2018, na cidade de Dundee, na Escócia. O arquiteto selecionado para o projeto foi o japonês Kengo Kuma, o mesmo que projetou o Japan House, em São Paulo. Trata-se do primeiro museu de design do País e foi destacado como um dos top 10 prédios inaugurados no ano por veículos como o The Guardian e o Dezeen.

Dundee é a quarta maior cidade da Escócia e conta com uma população de aproximadamente 150 mil pessoas. A decisão de construir um museu tão renomado em uma cidade médio porte faz parte de um movimento já descrito aqui no blog conhecido como o ‘efeito bilbao’ – onde um ícone cultural (geralmente com uma arquitetura espetacular) é construído para fomentar o turismo na cidade. Como Dundee fica a pouco mais de uma hora de trem de Edimburgo, é possível se hospedar na capital escocesa, ir e voltar no mesmo dia. Ao se aproximar da cidade de trem, já é possível avistar o prédio e, ao sair da estação, nos deparamos imediatamente com ele.

O museu é situado na zona portuária da cidade. A sua forma se assemelha à dos navios e, assim como eles, avança em direção a água. Em seu discurso, Kengo Kuma fala muito da natureza como uma fonte de inspiração. O arquiteto explica que ele quis trabalhar o edifício como se fosse um penhasco. Seu objetivo foi conectar a cidade com a sua orla, promovendo uma simbiose entre o natural e o artificial. A fachada opaca é coberta por camadas horizontais de concreto pré-moldado. Os painéis criam um ritmo e um jogo de sombras, o que faz com que o objeto se transforme ao longo do dia, em função da luz do sol.

Do que eu já tinha visto por fotos, o edifício me parecia bastante hostil e fechado para o entorno. Chegando lá, achei a sua escala muito adequada ao local. Além disso, achei interessante como a forma do objeto foi se revelando à medida que eu me aproximava. Devido à uniformidade do seu invólucro, à distância o objeto parece rígido e estático mas na verdade ele vai se curvando ao longo do seu perímetro. Esse movimento do objeto forma uma espécie de túnel, que cruza o prédio pelo meio. Esse vão, uma espécie de pórtico, foi criado com o objetivo de conectar visualmente o centro da cidade com o Rio Tay.

Ao adentrar o museu, é fascinante perceber que a mesma composição horizontal foi mantida no interior, só que aqui, ao invés de usar concreto pré-moldado, as paredes são revestidas por painéis de carvalho. A madeira traz um aconchego para o interior e essa continuidade de linguagem proporciona uma transição delicada entre o dentro e fora.

Continuidade de linguagem traz uma transição delicada entre o dentro e fora
As linhas retas são mantidas também na solução do desenho do teto e no mobiliário. As janelinhas reforçam a semelhança com a arquitetura naval.

No espaço central, há um pé direito duplo que atravessa o volume e permite a entrada da luz natural. Esse é um ponto hierárquico no projeto pois permite uma continuidade visual entre os dois andares. Nesse espaço central, no térreo, estão reunidos o café, a lojinha e a bilheteria. Não há paredes dividindo esses ambientes – a diferença é demarcada pelo mobiliário. No segundo andar, essa integração é preservada com espaços de leitura e um restaurante. Trata-se de um único espaço que engloba múltiplos usos. Apenas as salas de exposição e os banheiros são fechados para esse esse núcleo central.

Espaço Central onde estão concentrados usos distintos e a circulação vertical

A circulação vertical também é realizada nesse espaço central. Por escadas, que seguem o mesmo desenho horizontal das paredes, e por um elevador, que confere acessibilidade ao projeto.

Na fachada, há terraços para a contemplação da paisagem.

Entre os objetos em exposição permanente no acervo, há uma reconstrução do The Oak Room (A Sala de Carvalho) do designer Charles Rennie Mackintosh. Um projeto de 1907, a sala pertencia originalmente ao Ingram Street Tearooms de Glasgow e foi resgatado em 1971, na época da sua demolição.

O Victoria and Albert de Dundee não é apenas um espaço de exposição, mas de encontro da população. Gostei muito de conhecer e recomendo a visita. Para quem quiser tirar uns dias para conhecer Dundee, você encontra ótimas dicas aqui.