Casa de Vidro e SESC Pompéia, Lina Bo Bardi | SP
23/10/2019

Em visita recente a São Paulo, eu tive a oportunidade de visitar a Casa de Vidro, o primeiro projeto construído de Lina Bo Bardi, a mesma arquiteta que assinou o projeto do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP).

A casa é localizada no bairro do Morumbi. Ela foi construída nos anos 50 e foi onde Lina viveu por mais de 40 anos ao lado do seu marido, Pietro. Hoje a casa abriga o Instituto Bardi e é aberta à visitação de quinta à sábado. As visitas são guiadas por educadores então é importante se informar sobre os horários das visitas antes de ir.

Sobre a Lina e o Pietro

Lina Bo e Pietro Bardi viviam em Roma, na Itália, onde Lina estudou arquitetura e Pietro trabalhava como jornalista, crítico de arte e marchand. Em 1946, após a segunda guerra, o mercado no país passava por um momento difícil então o casal resolveu vir para o Brasil. No Rio de Janeiro, organizaram exposições e conheceram Assis Chateaubriand. Eles o ajudaram a montar o acervo do Museu de São Paulo e Lina se tornou arquiteta do museu. Ela desenvolveu projetos de exposições antes de eventualmente construir a sua nova sede, entre 1958 a 1968.

A Casa

A Casa de vidro foi construída um pouco antes, entre 1950 e 51. Lina escolheu um terreno que pertencia ao loteamento da antiga Fazenda de Chá Muller Carioba, com poucas construções à volta e um terreno em declive, o que apresentava um interessante desafio ao projeto. Lina optou por uma implantação no topo para tirar partido da vista privilegiada.

Imagem da casa na época da construção. fonte: archdaily

O projeto segue os 5 princípios da arquitetura moderna, definidos por Le Corbusier, entre esses as janelas em fita, o espelho d’água, o pilotis no térreo, fachada e a planta livre. A sala da casa é generosa para receber festas.

Pilotis sob a casa. Escada no meio do vazio ganha destaque e demarca a entrada principal. Projeto considerou árvore existente e contornou-a.

Achei interessante como a casa parece ter duas proporções. Enquanto a fachada frontal (voltada para o sul) é imponente, com fechamento todo de vidro, concebida para ser vista à distância e de baixo, a fachada dos fundos (voltada para o norte, onde bate mais sol) é mais fechada, com uma proporção menor e com esquadrias que se assemelham às de casas locais. Nessa parte dos fundos, a casa também é acessada diretamente do nível do terreno. Para acessar pela frente, é preciso subir uma escada. Quem vê as duas fachadas separadamente, nem diz que são da mesma casa. Essa discrepância para mim revela uma grande sensibilidade do projeto já que são partes da casa com uso e orientações distintas então requerem um desenho e materialidade também distintos.

fachada fundos
Pátio interno com janela dos quartos. Acesso pelos fundos é feito pelo nível do terreno.

O paisagismo também foi desenvolvido pela Lina. Embora nas primeiras fotos podemos observar que não havia muita mata em volta, a ideia sempre foi rodear e integrar a casa com a  natureza. Depois de sessenta anos, a vegetação cresceu e hoje esconde a casa.

 SESC Pompéia

Galpões revitalizados

Nos anos 70, após a construção do MASP, Lina foi chamada para fazer o projeto do SESC Pompeia. O projeto aproveitava a estrutura existente de uma antiga fábrica de tambores, cuja arquitetura datava dos anos 30. Os galpões foram convertidos em espaços de exposição, biblioteca, teatro e refeitório, enquanto no fundo do terreno foram edificados dois blocos de concreto aparente. Eles concentram quadras poliesportivas, piscina e salas para atendimento odontológico. Esses dois blocos são interligados pelas emblemáticas passarelas, também em concreto aparente.

Prédios com quadras poliestportivas e passarelas interligando-os.
Estrutura em concreto aparente

O Ateliê de Lina Bo

Lina trabalhava dentro de suas obras – ela não tinha um escritório. Quando o projeto do SESC Pompeia foi concluído, ela viu a necessidade de construir o seu próprio ateliê.  Seu novo espaço de trabalho foi edificado no mesmo terreno da Casa de Vidro, na parte de baixo. Esse projeto dos anos 80, concebido para uma rápida construção, é praticamente todo em madeira e alvenaria. Um projeto bem diferente da sua casa original, o que mostra que Lina não se prendia a um único estilo. Ela evoluía, buscava sempre se adaptar e descobrir coisas novas.