Nordhavn | Copenhague
13/07/2023

O projeto urbano para o bairro de Nordhavn, em Copenhague, foi desenvolvido pelo escritório dinamarquês Cobe. Trata-se de um novo bairro de usos mistos em uma antiga zona industrial e portuária. Escolhido a partir de um concurso realizado em 2008, o projeto estabelece aterros que avançam sobre o mar, criando um arquipélago, onde uma ilha é desenvolvida por vez. A expectativa é que, até 2050, a região conte com 40 mil residentes e 40 mil novos postos de trabalho.

Nordhavn antes do início da expansão (2008) e previsão após a finalização. Fonte imagem: Cobe Nordhavn

A partir da crise na cidade nos anos 1980, foram lançadas diretrizes para o desenvolvimento futuro da capital dinamarquesa. Entre os pontos a serem melhorados, uma prioridade era a qualidade das águas dos canais. Para isso, foi feito um investimento equivalente a mais de 1 bilhão de dólares. Uma das estratégias foi passar a despejar o esgoto em alto mar, que antes era jogado diretamente nos canais. Atualmente, as águas são próprias para banho e a sua qualidade é verificada diariamente.

No início dos anos 2000 surgiram as primeiras estações de mergulho, como o Copenhagen Harbour Bath (inaugurado em 2002), projeto do escritório PLOT, parceria do Bjarke Ingels (BIG) com Julien de Smedt (JDS).

Copenhagen Harbour, projeto PLOT. Fonte Foto: BIG Copenhagen harbor bath project

Essas zonas de banho geralmente são gratuitas, algumas contam até com sauna, e atraem pessoas que nem sempre moram nesses bairros. O fluxo de visitantes em bairros residenciais com pontos de mergulho frequentemente resulta em um conflito entre os visitantes e os moradores, que se incomodam com a quantidade de pessoas e a música alta. Isso é um exemplo do fenômeno ‘NIMBY’, sigla para ‘not in my back yard’ (tradução: não no meu quintal), quando os moradores desfrutam do fato de morar perto da água com uma estação de mergulho, mas depois se incomodam com a presença dos visitantes.

Foto do Sandkaj Badezone, em Nordhavn.
Foto Sandkaj Badezone com a sede da ONU no fundo.

Do outro lado do Nordhavn Bassin, avistamos o prédio sede da ONU, projeto do 3XN architects. O prédio de implantação em forma de estrela de 8 pontas tem um sistema inteligente nas fachadas, que abre e fecha em função da incidência solar. Isso contribui para uma redução em 55% do consumo energético.

Sede da ONU, projeto 3XN architects

Nordhavn começou a ser desenvolvido na região de Aarhusgadekvarteret, popularmente conhecida como ‘Red Neighborhood’ (tradução: Bairro vermelho), devido às fachadas de tijolo na área. Um dos primeiros novos empreendimentos na região foi um prédio de estacionamento com espaço de lazer na cobertura – o ‘parking house + konditaget lüders’, também conhecido como ‘park ‘n’ play’, um projeto do Jaja Architects (tradução do dinamarquês: ‘Sim Sim arquitetos’).

‘parking house + konditaget lüders’, Jaja architects

O projeto mantém a tonalidade avermelhada dos arredores, tanto na fachada quando no playground. As fachadas são em grelhas e chapas metálicas cobertas por vegetação. As fachadas longitudinais são atravessadas por uma escadaria que liga o térreo diretamente à cobertura. Ao longo da escadaria, as chapas metálicas da fachada são perfuradas com desenhos que contam a história da zona portuária.

Botão do cronômetro no acesso à escada

Na parte de baixo da escadaria há um botão que inicia um cronômetro. A pessoa pode apertá-lo e então subir as escadas correndo. No topo, há um relógio expõe o tempo que a pessoa levou para subir todos os degraus. Uma pequena ajuda para os treinos.

Como esta foi uma das primeiras construções do bairro, a prefeitura criou vários programas esportivos gratuitos em seguida à inauguração, com o objetivo de atrair pessoas para virem morar aqui e estimular o interesse público pela área.

‘konditaget lüders’, Jaja architects
O tubo vermelho do guardacorpo se torna parte dos brinquedos
A cor vermelha do bairro é preservada no piso e nos brinquedos
‘konditaget lüders’, Jaja architects

O guarda corpo da escada é um tubo vermelho que, ao chegar no parque, se desprende da escada e avança pelo espaço, se tornando parte integral dos brinquedos. Isso contribui para o aspecto lúdico do conjunto. Além do espaço esportivo e recreativo, a cobertura oferece uma vista 360˚  da cidade. Daqui avistamos inclusive a nova sede do escritório BIG, atualmente em construção.

Foto da nova sede do escritório do BIG, em construção em Nordhavn.

Além do estacionamento e do parquinho, o prédio inclui um centro de reciclagem no térreo, que recicla vidro, metais, tecidos, etc.

Centro de reciclagem no térreo do prédio de estacionamento

Além do novo escritório do BIG, outros escritórios se estabeleceram na região, como o próprio Cobe, que desenvolveu o plano urbano da região.

Sede do escritório Cobe

Assunto do último artigo do blog (link para o artigo), Ørestad foi um bairro planejado e construído antes de Nordhavn. Sua construção trouxe uma série de aprendizados para os futuros empreendimentos na cidade. Há um shopping em Ørestad, por exemplo, que dificultou o estabelecimento de comércios locais. No projeto de Nordhavn, isso foi levado em consideração para que as lojas de menor escala fossem priorizadas.

Outro aprendizado foi a criação de ruas com paginação de pedras no lugar de aplicar um piso contínuo de asfalto. Jan Gehl sempre defendeu uma abordagem mais humana na concepção dos espaços públicos e ele explica que o asfalto é muito associado ao carro. As pessoas, e sobretudo as crianças, se sentem mais inclinadas a ocupar ou a brincar em vias com paginação em peças do que sobre pisos contínuos.

Pisos com paginação são mais convidativos para a ocupação das pessoas, segundo Jan Gehl

Assim como muitas outras cidades, Copenhague vive um momento de alta nos preços de moradia por conta da baixa oferta em relação à demanda. Há também a preocupação com o aumento do nível do mar, devido à crise climática. Foi lançado um projeto para a criação da ilha Lynetteholm, que será próxima de Nordhavn e terá uma área de 200 hectares. Espera-se que a ilha artificial abrigue 35-40 mil residentes e crie a mesma quantidade de postos de trabalho. Essa solução, que almeja resolver dois problemas com uma só solução, tem sido profundamente criticada por ativistas ambientais por conta do impacto na biodiversidade e salinidade marítima. Saiba mais por este artigo: Why Climate Activists Want to Stop Denmark’s New Island-City | Time