Ørestad | Copenhague
10/07/2023

Nos anos 80, a partir da crise do petróleo, a cidade de Copenhague também vivia um momento de crise econômica. O desemprego chegava a 17% e a maior parte da população tinha saído da cidade para morar nos subúrbios ou no meio rural. Com isso, a capital dinamarquesa estava esvaziada, com uma população majoritariamente composta por estudantes e idosos. A fim de revitalizar Copenhague, o governo municipal lançou um plano com 20 diretrizes para o futuro da urbe. Entre os pontos a serem melhorados estava a infraestrutura, a rede de transportes (através de obras como a ponte que liga a Dinamarca à Suécia e a expansão das linhas de metrô), o investimento em habitação e a limpeza das águas dos canais.

Ørestad é um bairro cuja revitalização data desta época. Hoje, Ørestad é percebido como um caso problemático que serve de exemplo do que não fazer ao se projetar uma nova área da cidade.

Canal passando pelo bairro de Ørestad

A venda dos lotes para incorporadores financiou a extensão da linha do metrô para Ørestad, que fica ao sul do centro de Copenhague. Foram chamados arquitetos proeminentes, como o PLOT (escritório original de Bjarke Ingels (BIG) e Julien de Smedt (JDS)), para assinar os projetos e atrair um maior interesse para a região. Por ser um bairro mais afastado, a regulamentação era menos restritiva, o que garantia maior liberdade em termos de morfologia da arquitetura.

Mountain Dwellings, conjunto residencial do escritório PLOT
Mountain Dwellings, conjunto residencial do escritório PLOT
Fachada lateral do Mountain Dwellings, do escritório PLOT

Um dos projetos que encontramos aqui é o Mountain Dwellings, inaugurado em 2008. Veja neste link um vídeo do arquiteto Bjarke Ingels explicando o projeto. No lugar de fazer dois blocos, um para as habitações e outro para os carros, os arquitetos resolveram fazer um bloco único com o estacionamento em baixo e os apartamentos em cima. O estacionamento de 450 vagas é distribuído em níveis, resultando em uma inclinação que possibilita às unidades residenciais superiores não obstruírem as vistas umas das outras. Cada unidade residencial tem o seu próprio terraço, todos voltados para o sul para um maior aproveitamento da luz do sol. As fachadas do bloco de estacionamento são de chapas metálicas perfuradas com a silhueta de uma montanha. Além da referência ao conceito do empreendimento, os furos permitem a ventilação natural do espaço interno.

Bicicletário sob o prédio
Estacionamento sob o bloco de apartamentos
Fachada Sul do complexo Mountain Dwellings
Vista das unidades residenciais com terraços

Bem ao lado está o prédio VM houses, outro projeto do PLOT construído para o mesmo cliente alguns anos antes. O VM houses foi inaugurado em 2005 e é caracterizado pelas varandas de plantas triangulares, que também são voltadas para o sul.

VM houses, PLOT
VM houses, PLOT
VM houses, PLOT

Perto desses dois complexos residenciais multifamiliares, há o Ørestad College (que equivale ao ensino médio), um projeto do escritório 3XN architects. Um aspecto interessante desse projeto são os espaços abertos dentro do prédio, onde muitas aulas acontecem no lugar de serem em salas fechadas. Do lado de fora, há um pátio público que é compartilhado entre os alunos do ensino médio, os da escola fundamental adjacente e uma biblioteca.

Ørestad College, projeto 3XN architects
Ørestad College com o pátio aberto compartilhado em frente
Espaços abertos compartilhados dentro da escola. Fonte foto: https://3xn.com/project/orestad-college

O bairro de Ørestad tem 600 metros de largura e é recortado por grandes avenidas e pelos viadutos do metrô de superfície. Isso resulta em um espaço público hostil que foi fortemente criticado pelo urbanista dinamarquês Jan Gehl. Gehl defende a escala humana das cidades e critica a priorização dos transportes sobre as pessoas no plano urbano de Ørestad.

Kay Fisker’s square, praça conformada por avenidas e viadutos é considerada inóspita.

Ainda na região, há um projeto do Norman Foster – as Copenhague Towers. O projeto de interiores do lobby foi assinado pelo Lendager Group, que criou um jardim neste espaço. O projeto utiliza materiais reciclados como concreto, madeira de demolição e garrafas PET. Nas fachadas dos elevadores, foram empregadas velas de barcos, atribuindo um novo uso ao material. As velas usadas em competições navais não podem ser reutilizadas muitas vezes pois perdem qualidade e podem representar um problema de segurança.

Copenhague towers, Norman Foster

Projeto arquitetura de interiores do Lendager Group

Esse não é o único projeto do Lendager Group na região. O Resource Rows é um prédio residencial multifamiliar cuja fachada reutiliza tijolos de uma antiga fábrica de cerveja. A reciclagem do tijolo não é simples por conta da argamassa entre os módulos. O que os arquitetos fizeram aqui para facilitar o processo foi cortar segmentos inteiros do muro e reaproveitá-los em grandes pedaços. Como a fábrica original tinha extensões com duas tonalidades de tijolo diferente, o novo prédio traz um pouco dessa história da construção original.

Resource Rows, Lendager Group
Resource Rows, Lendager Group

Um dos últimos prédios que visitamos foi a 8 house, outro projeto de Bjarke Ingels cuja implantação se assemelha a um ‘8’. Assim como no Mountain Dwellings, as 470 unidades residenciais parecem casas. Há uma rampa que começa no térreo e sobe pela lateral do prédio, como uma continuação da calçada. Através desse caminho é feito o acesso direto às unidades independentes. É como se cada casa desse diretamente para a rua. O complexo fica no limite do bairro então desfruta de uma magnífica vista para uma reserva ambiental.

8 house, BIG
8 house, BIG
8 house, BIG

Finalizamos o tour do bairro na zona norte de Ørestad, onde um campus universitário foi inaugurado nos anos 90. Nesse ponto o metrô deixa de ser subterrâneo e passa a ser elevado.

Ørestad ainda estava em construção no início dos anos 2000. Com a crise de Wall Street, em 2008, as obras foram paralisadas. Com esta pausa, os planejadores tiveram um tempo para ouvir a opinião pública acerca dos primeiros projetos construídos no norte. Muitos moradores reclamaram do fato de se mudarem para um bairro ainda em obras. Quando as construções foram retomadas na região sul do bairro, algumas modificações foram feitas para tornar a sua escala mais humana. Essas lições aprendidas foram importantes para o futuro desenvolvimento de outros bairros da cidade, como Nordhaven, que, ao contrário de Ørestad, não foi planejado todo de uma vez. Atualmente, a municipalidade não faz um ‘masterplan’ para um bairro todo, mas vai desenvolvendo aos poucos, uma quadra por vez.