Tony Cragg no MNAC | Lisboa
07/01/2024

O Museu Nacional de Arte Contemporânea (MNAC) de Lisboa recebe atualmente a exposição “Rare Earth”, que reúne pela primeira vez na cidade uma série de esculturas do artista Tony Cragg.

Early form (ringform), 2014
Early form (ringform), 2014

Nascido em Liverpool, em 1949, Anthony (Tony) Cragg estudou escultura no Royal College, que fica perto do Museu de História Natural de Londres. Ele afirma que os fósseis da coleção serviram de inspiração para os seus primeiros trabalhos. Isso se torna claro na sua série ‘Hedge’, por exemplo. Na foto abaixo, vemos uma dessas esculturas, que fez parte da exposição coletiva Genius Loci, em Veneza, em 2014.

‘Hedge’, Tony Cragg. Foto tirada na exposição ‘Genius Loci’, em Veneza (2014)

Desde 1977, Cragg vive e trabalha em Wuppertal, na Alemanha. Ele foi convidado para representar o Reino Unido na 43a Bienal de Veneza, em 1988, e venceu o prestigioso Turner Prize no mesmo ano.

 

O título da exposição, que traduzido para o português significa “Terra Rara”, traz uma reflexão em torno da matéria em um mundo abalado pela crise climática. Um estudo recente, publicado pela revista Nature, demonstrou que, no ano de 2020, a massa total da produção humana ultrapassou toda a biomassa do planeta (Elhacham, E., Ben-Uri, L., Grozovski, J, 2020) . Vale ressaltar que, em 1900, a massa da antropogênica representava apenas 3% do total. Hoje ela supera 50%.

Desta massa gerada pelo homem, a maior parte é banal e de natureza descartável. Pensando nisso, em sua instalação “Spectrum”(1979), Cragg reuniu fragmentos de plástico que ele coletou nas margens do rio Reno.

Spectrum, 1979

O artista trabalha com materiais variados, como o gesso, bronze, ferro e a madeira.

Mental landscapes, 2007

Além das esculturas que o artista produziu no período entre 1979 e 2023, a exposição traz desenhos que nos ajudam a entender a gênese da forma.

Desenho

Por vezes, a composição se assemelha a uma sucessão de ângulos em um movimento contínuo. Este desejo de capturar o movimento em uma imagem me lembrou a pintura “nu descendo a escada”, de Marcel Duchamp:

Nu descendo a escada, Marcel Duchamp (1912). Fonte: Philadephia Museum of Art

Até então, as esculturas de Cragg me pareciam mais abstratas. Nestes trabalhos aqui expostos, pude perceber alguns elementos do figurativo, como o perfil de um rosto ou uma orelha, por exemplo. As formas curvas e geométricas exprimem uma precisão, o que sugere o uso de máquinas e computadores no processo.

‘Versus’, 2012
Detalhe ‘Versus’, 2012

Em uma parceria com a Câmara Municipal de Lisboa, a exposição se expande para além dos muros do museu. Encontramos algumas peças espalhadas pela cidade, como na Praça do Comércio.

Escultura de Tony Cragg próxima da Praça do Comércio

Aos que estiverem ou forem para a capital portuguesa, a exposição segue aberta à visitação até 25 de fevereiro 2024.

Referências:

1_ Elhacham, E., Ben-Uri, L., Grozovski, J. et al. Global human-made mass exceeds all living biomass. Nature 588, 442–444 (2020). https://doi.org/10.1038/s41586-020-3010-5

2_ Nu Descendo a escada no.2, Marcel Duchamp (1912). Fonte: https://philamuseum.org/collection/object/51449