Um passeio pela Avenida Paulista | São Paulo
22/12/2013

Reconhecida como um dos principais centros comerciais e culturais de São Paulo, a Avenida Paulista foi originalmente concebida como uma região residencial para a alta sociedade Paulistana. Inaugurada no final do século XIX, no dia 8 de dezembro de 1891, a avenida emergiu como resultado de uma nova expansão urbana pelos terrenos de antigas fazendas. Hoje a via reúne importantes exemplares da arquitetura moderna e contemporânea brasileira.

Avenida Paulista em 1891
Avenida Paulista – Bairro residencial em 1901

Ela foi a primeira via asfaltada da metrópole (1909). Separada em três faixas, a avenida possuía originalmente uma via para bondes, sendo que o mesmo só foi instalado em 1900. Havia também uma faixa para carruagens e uma para cavaleiros.

Seu projeto urbanístico foi bastante inovador para a época. A implantação dos palacetes rompia com os tecidos urbanos tradicionais. Suas fachadas podiam ser afastadas do alinhamento do terreno, o que atribuía uma maior amplitude à avenida.

Este uso predominantemente residencial se manteve até meados da década de 50, quando as casas começaram a dar lugar a grandes edifícios comerciais. Um marco desse momento de transformação foi o Conjunto Nacional de 1954, projeto do arquiteto David Libeskind.

Arquitetura Moderna Brasileira – Conjunto Nacional na Avenida Paulista
O conjunto nacional, a direita

O conjunto nacional foi o primeiro edifício multiuso na avenida paulista.  Composto por dois prismas – o vertical, de uso residencial, e o horizontal, no caso o embasamento, que concilia funções comerciais como lojas, escritórios, cinema, academia, centro cultural e um terraço ajardinado – o conjunto ocupa a quadra em sua totalidade. No entanto, os seus múltiplos acessos permitem uma permeabilidade do objeto e a continuidade do percurso urbano. O caráter público do térreo permite que a cidade adentre, penetre e atravesse a construção. Seu interior adquire, portanto, o caráter de espaço público.

A implantação da torre é afastada da calçada, permitindo uma visualização mais plena, além de gerar um vazio entre a mesma e a avenida. Enquanto isso, o embasamento cobre quase inteiramente a área da quadra. A horizontalidade do embasamento contrapõe a verticalidade da torre residencial.

Continuidade com a calçada – Térreo do Conjunto Nacional

Na avenida, também encontramos importantes ícones culturais, característicos da paisagem paulistana e da arquitetura brasileira. Esse é o caso do edifício da FIESP, concebido pelo escritório Rino Levi Arquitetos Associados.  Vencedor de um concurso realizado no final dos anos 60, construído ao longo dos anos 70 e inaugurado em 1979, o edifício permanece um marco na paisagem devido à sua forma única.

Edifício fiesp, de Rino Levi
MASP no primeiro plano e edifício fiesp no fundo, a direita

MASP, projeto de Lina Bo Bardi

Mas o grande de respiro da avenida dá-se no segmento entre a Rua Peixoto Gomide e a Alameda Casa Branca onde avistamos o Museu de Arte de São Paulo, o MASP, projeto da arquiteta ítalo-brasileira Lina Bo Bardi, em contraposição com o Parque Trianon, inaugurado em 1892 sob o nome Parque Villon.  O museu – uma caixa flutuante, sustentada por uma vigorosa estrutura de concreto. O térreo é livre de construções e barreiras físicas, um espaço que foi cedido pelo projeto à cidade. Há ainda um segundo segmento do museu no subsolo. O vão livre criado aqui permite inúmeras utilizações, desde feiras a exposições, encontros, aulas e até mesmo manifestações. Recentes discussões sobre o fechamento deste vão tem suscitado indignação entre os seus frequentadores e apreciadores. Além de artigos, vídeos manifestos na internet e debates questionando essa atitude do museu, no sábado, dia 07 de dezembro, aconteceu lá um movimento ‘abrace o vão livre do MASP.’

Vão livre no térreo do MASP
Sob o museu

Esse movimento suscita uma importante discussão. O que significa o fechamento do vão do MASP para a cidade? Não seria um ato de privatização e individualização do espaço público, no lugar de torná-lo mais inclusivo? Essa atitude não vai contra o movimento de pensar as nossas cidades de forma mais democrática? A cidade é feita para quem? Há muito ainda a se fazer em termos de planejamento urbano e sobre pensar a cidade. A batalha pela permanência do vão livre enaltece a importância dessa discussão.