A nova sede do Museu dos Coches em Lisboa foi inaugurada em Maio de 2015, exatamente 110 anos após a criação da instituição pela Rainha D. Amélia. O museu é um dos 5 mais visitados de Portugal e o seu projeto é uma parceria entre o arquiteto Paulo Mendes da Rocha e os escritórios MMBB e Bak Gordon arquitetos.
O museu fica em Belém, freguesia que reúne alguns dos principais pontos turísticos da capital como o Mosteiro de Jerônimos, o Padrão dos Descobrimentos e a Torre de Belém. Há ainda um percurso de museus, que inclui o Centro Cultural de Belém (CCB), o Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia (o MAAT) e o agora também o Museu dos Coches.
A região conta ainda com muitas áreas verdes. Entre elas, o Jardim da Praça do Império, o Jardim Vasco da Gama e o Jardim Afonso de Albuquerque. Este último fica logo em frente ao Museu dos Coches, o que permite ao visitante admirar o prédio à distância.
“Em frente”, na verdade, é uma imprecisão, visto que não há uma única fachada frontal no complexo. Eu diria que o museu conta com duas fachadas principais – a oeste, voltada para o jardim, e a sul, voltada para o Rio Tejo. O edifício foi pensado para ser avistado de diferentes pontos de vista já que há diversos meios de se chegar ao local – trem (comboio), bonde (elétrico), ônibus(autocarro), de carro ou a pé.
A estrutura de concreto, que compõe a fachada oeste, é afastada do bloco no nível térreo. Neste intervalo, surge uma rampa que se estende por toda a largura do edifício e se transforma em uma passarela que cruza sobre a via expressa, acessa a estação de trem e chega até a margem do rio do outro lado, permitindo a travessia dos visitantes. Com esse gesto, o prédio expande para além dos limites do lote e passa a ter um impacto na escala urbana.
Além da rampa linear na extremidade norte, também é possível subir à passarela por uma escada curva, localizada na esquina sudoeste do terreno.
A construção se adéqua à altura das edificações do entorno e explora horizontalmente as dimensões da quadra através de dois blocos principais. O bloco ao norte inclui um auditório e biblioteca enquanto o ao sul contém a sala de exposição dos coches. Cada bloco possui uma entrada e bilheteria própria. A entrada ao museu é feita no meio da quadra, o que obriga o visitante a contornar parte do edifício para chegar lá. Ao lado da bilheteria, há um grande banheiro público aberto a todos, não apenas aos visitantes.
O térreo do bloco de exposições, que inclui uma loja e um bengaleiro, é envolvido por um invólucro inteiramente de vidro. O piso é do mesmo material da área externa então há uma continuidade entre o dentro e fora. Dois espaçosos elevadores nos levam às salas de exposições no pavimento superior e servem tanto para o transporte dos visitantes quanto dos próprios coches.
O hall dos elevadores fica entre as duas salas de exposição principais. As salas são majestosas, com um pé-direito altíssimo e um comprimento que ultrapassa 200 metros. Aqui podemos observar os coches do acervo enfileirados em um mesmo espaço. O espaço de circulação entre os coches é amplo e comporta um grande fluxo de visitantes. Os coches são rodeados por elementos brancos no piso, onde constam as explicações acerca do coche e que também delimitam a distância entre o visitante e o veículo. O teto das salas é revestido por uma grelha metálica que permite visualizar a infraestrutura que está por trás.
Embora este seja um projeto de linhas retas, elas nem sempre são ortogonais. Em diferentes pontos do projeto, linhas e planos inclinados se apresentam, trazendo dinamismo para a composição. Esse é o caso das vitrines e pórticos na sala de exposição ou mesmo no desenho da escada na fachada sul. Essa solução me remete à velocidade, o que faz muito sentido já que se trata de um museu de transportes.
No último andar, há uma segunda galeria para exposições menores e temporárias. O acesso a essa galeria pode ser feito diretamente pelos elevadores ou pela escada da fachada seguida por passarelas que atravessam o vão da sala de exposição. É interessante caminhar por aqui e observar todo o espaço e os coches de cima. Desse pavimento, é possível atravessar para o outro bloco, onde há a biblioteca e um espaço que originalmente serviria de restaurante.
Aos que visitarem Lisboa, recomendo fortemente a visita ao museu – não apenas pela arquitetura mas também pelo seu belíssimo acervo.