Kunsthaus, David Chipperfield | Zurique
25/09/2023

David Chipperfield, arquiteto vencedor do Prêmio Pritzker em 2023, projetou a extensão do Kunsthaus, o maior museu de arte da Suíça. O Kunsthaus está situado ao lado da Universidade de Zurique. Ele estabelece uma espécie de espaço de transição entre a cidade e o campus universitário, como se fosse um pórtico de arte em uma região da cidade majoritariamente voltada para a educação e o ensino.

Prédio Chipperfield

O complexo do Kunsthaus se divide em quatro prédios. O bloco assinado por Chipperfield é o mais novo do conjunto, tendo sido inaugurado em 2021. Há ainda os prédios Moser (1910), que fica imediatamente em frente, do lado oposto da praça Heimplatz, o Pfister (1958) e o Müller (1976). O prédio Chipperfield abriga obras permanentes, como a coleção Emil Bührle, assim como exposições temporárias.

Prédio Pfister em primeiro plano e o prédio Moser ao fundo, à esquerda.

Sua fachada é revestida por pedra calcária, tipo limestone, um material muito utilizado nas construções de Zurique e nos outros prédios que compõem o museu. O desenho da fachada cria um ritmo de aberturas verticais com intervalos esbeltos. A rigidez do volume é rompida pela variação dessas aberturas e pela alternância da materialidade entre pedra e vidro, entre opacidade e transparência. Esse jogo de contrastes faz com que o objeto não fique sóbrio em demasia.

Prédio Chipperfield

No interior, a pedra permanece no piso mas as paredes são em concreto bruto. Aqui, o classicismo da fachada é contraposto pelo modernismo e pela alta tecnologia do concreto, evidenciada pelos imensos vãos. Neste momento, fica claro que se trata de uma construção contemporânea.

Grandes vãos

O acesso pode ser feito diretamente da rua ou então por uma passagem subterrânea que passa por baixo da Heimplatz e o interliga ao prédio Moser. A circulação interna é organizada por um grande átrio que atravessa o edifício, estabelecendo uma continuidade visual entre a praça da frente e o jardim dos fundos. Essa transversalidade é enfatizada pelas esquadrias que vão do piso ao teto.

Passagem subterrânea. No teto, obra de Olafur Eliasson
Passarela com piso de pedra e paredes em concreto aparente

Recepção

No térreo, encontramos as principais funções públicas, como bilheteria, chapelaria, café, loja e espaço para eventos, enquanto os dois pavimentos superiores concentram as salas de exposições. Apesar de sua amplitude, o espaço expositivo foi dividido em salas menores, o que permite à museografia tirar partido de elementos como cor e iluminação para imprimir uma maior personalidade à cada ambiente e realçar a beleza das obras expostas.

Salas de exposição
Cada sala tem uma ambiência única

O projeto de interiores faz referência ao estilo art deco, através do emprego do dourado nas esquadrias, nos guardacorpos, nos metais, na comunicação visual, assim como no desenho dos painéis com linhas paralelas. Embora tenha sido construído nos anos 2020, o projeto de Chipperfield se integra de forma harmoniosa com os edifícios do entorno, construídos mais de meio século antes. Trata-se de um projeto contemporâneo, porém rico em referências ao passado. Em suma, atemporal.

Sinalização estilo art deco
Painéis dourados

A coleção aqui exposta é rodeada por polêmicas. Ela pertencia a Emil Georg Bührle, um antigo negociador e vendedor de armas para o exército nazista na segunda guerra. A Bührle Fondation conta com uma vasta coleção de impressionismo francês. Ela ficava armazenada originalmente em uma casa, mas, após o roubo de quatro quadros em 2008, ficou claro que o local não detinha as condições necessárias para a segurança das obras. A partir de 2021, elas passaram a ser expostas no Prédio Chipperfield do Kunsthaus. O museu detém um contrato permanente de empréstimo com prazo mínimo de vencimento em 2034.

Há um segmento da exposição que explica a história dessa coleção e conta que o tribunal suíço condenou o Bührle a devolver treze obras de arte, que descobriram terem sido roubadas durante a guerra. Com o objetivo de trazer maior transparência sobre a origem dos quadros, um QR code contendo a sua história foi colocado ao lado de cada um.

Para conhecer melhor o projeto de arquitetura, recomendo esse vídeo de 6 minutos, filmado na época de sua inauguração.

Referências:

Extensão do museu Kunsthaus – Archdaily

Swiss art museum faces backlash – The New York Times

Kunsthaus Zürique – David Chipperfield Architects

Zurich Building House

Mariana Magalhães Costa