Fundação Serralves, Álvaro Siza Vieira | Porto
14/01/2019

Apesar de este não ser o primeiro texto sobre um projeto do Álvaro Siza Vieira (o Museu Iberê Camargo já foi assunto aqui no blog) a Fundação Serralves é um projeto anterior.  Localizada no Porto, a Fundação é parada obrigatória para quem estiver visitando a cidade.

Arquitetura de Museu: Fundação Serralves

A Fundação Serralves está localizada em um terreno com uma área de 18 hectares e abriga, além do museu de arte contemporânea, os jardins e a antiga casa da família do Conde de Vizela. A casa foi projetada entre 1925 e 1944 e trata-se de um dos principais ícones no estilo Art Déco em Portugal. Sua importância é tamanha que foi classificada como um imóvel de interesse público em 1996.  Já o jardim foi crescendo gradativamente ao longo das décadas através da aquisição de terrenos vizinhos e tornou-se também uma referência de patrimônio da paisagem portuguesa. A casa e o jardim foram abertos oficialmente ao público em 1987, embora a Fundação, uma colaboração entre o estado e a sociedade civil, tenha sido criada apenas em 1989.

Arquitetura Portuguesa: Casa do Conde de Vizela ao fundo é exemplar do Art Déco.
Arquitetura e paisagem: Espelhos d’água no jardim Serralves

O museu de arte contemporânea foi construído após a criação da Fundação – o projeto assinado por Siza foi iniciado em 1991 e o museu inaugurado em 1999.

Árvore envolvida pelo museu, avistada do corredor que leva à bilheteria

Basicamente, podemos afirmar que a Fundação possui 3 tipologias de espaço para receber diferentes exposições: a residência art déco, o museu de arte contemporânea e o próprio jardim.  Enquanto a casa possui ambientes menores com muitas paredes, o museu de arte contemporânea desfruta de pés direitos mais altos e espaços mais amplos. Já o jardim permite a instalação de obras de grande escala, como foi o caso da recente exposição do artista indiano Anish Kapoor que esteve em cartaz entre Julho 2018 e Fevereiro 2019.

Anish Kapoor: Instalação no Jardim Serralves
Anish Kapoor: Instalação no Jardim Serralves

O acesso à Fundação é feito por um pequeno portão na Rua Dom João de Castro. Um caminho à direita, coberto e aberto na lateral, direciona o visitante à entrada do museu de arte contemporânea, onde encontramos a bilheteria, uma lojinha, os banheiros, bengaleiro e um grande hall que distribui os visitantes entre os espaços expositivos, divididos por dois pavimentos.

Ponto de vista do observador: a perspectiva do corredor que leva à entrada do museu
Espaço de descanso no hall. Todos os traços do projeto coexistem em harmonia, desde o revestimento da parede até a janela e o desenho do teto.
Hall e Bengaleiro desfrutam de uma visada para o jardim

Nas salas de exposição, as obras de arte saltam aos olhos do visitante dada à sua composição branca e iluminação uniforme. Mas longe de serem espaços monótonos, as salas possuem ligações diretas umas com as outras, dispensando a necessidade de corredores e proporcionando ângulos inusitados ao longo do percurso, além de belas perspectivas para o jardim.  Esse desenho torna o percurso expositivo sempre surpreendente.

Sala de exposição. Iluminação difusa e indireta vem do teto.
Ângulos inusitados surpreendem ao longo do percurso. Piso de madeira estabelece um contraste com a cor branca da parede. O branco salta aos olhos e traz o nosso olhar para as obras em exposição.
Porta para varanda rompe com a ortogonalidade da sala e traz o jardim para o espaço de exposição.
Traços retos e formas geométricas em harmonia no espaço.

Do segundo andar, temos acesso à biblioteca que possui um belíssimo pé-direito duplo. No subsolo, há ainda um café. Apesar da diversidade dos usos, todos os espaços possuem o mesmo tratamento material – pedra tipo mármore à meia altura e paredes pintadas na cor branca.  A iluminação é sempre indireta e difusa, com as lâmpadas conciliada pelo desenho do teto. Todas as linhas do projeto estão em harmonia, nada sobra e nada falta.

iluminação sobre o hall que distribui os percursos do museu
Corredor do segundo pavimento é aberto lateralmente, permitindo a visualização do hall no pavimento inferior.
Biblioteca de pé-direito duplo.

O jardim abarca diferentes estilos de paisagismo. Composto por cerca de 230 diferentes espécies de vegetação, encontramos no jardim desde um bosque mais denso a grandes eixos delimitados por árvores em ambos os lados do passeio. Há ainda lagos e gramados propícios à instalação de esculturas temporárias, ou mesmo algumas permanentes que já fazem parte do acervo.

Instalação “Sky Mirror” de Anish Kapoor