Foi inaugurada em setembro 2017 a nova sede do Instituto Moreira Salles, em São Paulo. O projeto foi produto de um concurso realizado em 2011, e sua construção durou quase 4 anos, com início em 2014. Assinado pelo Andrade Morettin Arquitetos, um dos maiores escritórios de arquitetura em SP, o novo centro cultural é situado na Avenida Paulista (um local que já foi assunto aqui no blog), um dos principais pontos turísticos e culturais da capital paulista.
O instituto visto da avenida
Ao se aproximar do edifício avistamos um prisma translúcido. O material empregado na fachada é um vidro tipo U-Glass – um vidro com seção em U, autoportante, que permite a passagem de luz, mas preserva uma certa opacidade. Na apresentação do projeto, os arquitetos destacaram a “Maison de Verre”, projeto de Pierre Chareau e Bernard Bijvoet, como uma de suas principais referências devido a essa mesma condição de transparência e opacidade, dada no caso pelo tijolo de vidro (fotos abaixo).
A transparência difusa do vidro permite a visualização de um segundo volume por trás, de cor avermelhada, desprendido do invólucro do edifício. Trata-se dos espaços das galerias de exposição. Ou seja, da rua é possível avistar o contorno dos espaços expositivos. O contraste entre a pele de vidro e o volume das galerias é enfatizado não apenas pela cor e pelo afastamento da fachada, mas também por sua forma não ortogonal.
O edifício é suspenso do nível térreo. No centro desse espaço vazio, uma escada rolante nos convida a subir e adentrar o centro cultural. Ao fundo do terreno, encontramos um restaurante com uma magnifica parede de jardim vertical – quase um “pocket-garden” na avenida paulista.
Por dentro do museu
Ao subir o primeiro lance de escadas rolantes, somos rodeados por altas estantes de livros e salas de estudo – essa é a biblioteca de fotografia, que possui capacidade para abrigar até 30 mil itens.
Subindo mais um lance da escada rolante (dessa vez a escada vence um pé direito duplo), chegamos ao pavimento intermediário, entre a biblioteca e as exposições. Um pavimento que reúne características de praça pelo piso de pedra portuguesa, pelos bancos para o descanso e por trazer usos como o café, a livraria, banheiros e chapelaria. É nesse local que também encontramos a varanda, já avistada da rua. Dela, podemos ver uma bela vista do centro de São Paulo.
Há também uma varanda semelhante na fachada dos fundos. O guarda corpo é todo de vidro transparente, com um corrimão metálico na parte interna. Uma solução bastante limpa e elegante, que é repetida também nas escadas do projeto.
Aos que seguem para as salas de exposição nos pavimentos superiores, existem duas opções de circulação: o elevador, numa caixa de concreto aparente, ou uma escada aberta, com tábuas de madeira no piso. Em contraponto à estrutura cinza (metálica e de concreto), o piso de madeira traz um calor aos espaços de circulação e exposição.
O instituto conta com três salas de exposição independentes. Apesar das portas de vidro, que permitem a visualização da exposição antes de adentrar a sala, esses espaços herméticos permitem o controle total da luz e da temperatura para o melhor aproveitamento por parte da curadoria. O sistema de iluminação em trilhos oferece versatilidade e flexibilidade ao espaço expositivo.
Por outro lado, o espaço de circulação é predominantemente iluminado pela luz natural – tanto por aquela que entra pela fachada, quando pela claraboia. O recuo do volume das salas de exposição deixa um intervalo na cobertura, uma fresta de alguns metros que é encerrada por uma pele de vidro. Esse afastamento permite a visualização das diferentes camadas que compõem o edifício; o envelope, responsável pela entrada de luz e controle térmico; a estrutura metálica, responsável pela sustentação do edifício; e o espaço expositivo, o coração do edifício.