As olimpíadas vieram ao Brasil em um momento conturbado, de crise política e econômica. É difícil escrever sobre os jogos e sequer mencionar os problemas do planejamento e execução. Não há como relevar as águas poluídas da baía e das lagoas, as remoções na vila olímpica, a queda da ciclovia ou o trânsito na cidade. Ainda há muito a ser melhorado mas, sem dúvidas, nestes últimos anos, as olimpíadas trouxeram profundas transformações para a cidade.
Para além das arenas esportivas, a cidade maravilhosa passou por obras estruturais, desde a reforma do sistema de transporte público (com a criação do BRT, do VLT e a extensão do metrô) até a reestruturação de bairros inteiros, como a Zona Portuária.
Parque Olímpico da Barra da Tijuca
Os jogos aconteceram em quatro regiões da cidade: Barra, Deodoro, Maracanã e Zona Sul.
Projetado pela AECOM, a mesma empresa que projetou o Parque Olímpico de Londres 2012, o Parque Olímpico Rio 2016, localizado na Barra da Tijuca, agregava as principais arenas dos jogos. O projeto aproveitou parte da infraestrutura dos jogos pan-americanos de 2007, como o Centro Aquático Maria Lenk, que recebeu as provas de mergulho, e a Arena do Rio, onde aconteceram as provas de ginástica. Das arenas construídas especialmente para o evento, algumas possuíam caráter temporário, como as quadras de tênis, e algumas foram concebidas para se adequar a um novo uso após os jogos. Esse é o caso da Arena do Futuro, onde aconteceram as partidas de handball.
Um projeto do escritório Lopes, Santos & Ferreira Gomes em parceria com o escritório britânico AndArchitects, a Arena do Futuro será convertida em 4 escolas públicas, cada uma com capacidade para 500 alunos. Duas dessas escolas serão relocadas para outros lugares da cidade.
Parque Radical de Deodoro
O outro grande centro de jogos ficava em Deodoro, uma área militar na zona norte da cidade. O Parque Radical recebeu esportes como hipismo, tiro, rugby, mountain bike e ciclismo bmx. Foi construído também um imenso reservatório para as provas de canoagem slalom, que no verão de 2015 foi aberto à população e acabou por se tornar um verdadeiro piscinão.
Maracanã e Zona Sul
Para além desses dois parques principais, os esportes se espalharam por outros pontos da cidade. O tradicional estádio do Maracanã recebeu as partidas de futebol enquanto as provas de remo e canoagem aconteceram na Lagoa Rodrigo de Freitas, nas Zona Sul. Já as areias de Copacabana serviram de palco para a maratona aquática e a arena do vôlei de praia.
Boulevard Olímpico e a Orla Conde
Originalmente, a vila de mídia seria na zona portuária do Rio de Janeiro. Chegou a ser realizado um concurso público de arquitetura para o complexo mas, em 2014, optou-se por transferir a vila da mídia e dos árbitros para a zona oeste, para ficar mais próximo do Parque Olímpico. A transferência foi largamente criticada na época. Temia-se que, com essa mudança, a zona portuária ficasse esquecida entre as demais obras olímpicas. Não foi bem isso que aconteceu – a zona portuária ainda passou por transformações e se tornou um dos principais cartões postais das olimpíadas.
Inspirada pela história de cidades como Barcelona ou Buenos Aires, esperava-se que a recuperação da zona portuária contribuísse para a revitalização do Centro, uma localidade essencialmente comercial e empresarial. As diretrizes para o crescimento da zona portuária foram estabelecidas pela lei complementar 101/2009, que institui a operação urbana consorciada da região do porto e determina a construção de habitação social como um dos seus principais objetivos. Apesar disso, poucas habitações foram construídas até agora. Por enquanto, a maior parte dos empreendimentos que se instalaram por lá foram comerciais, corporativos, culturais e hoteleiros, em decorrência das leis 108/2010 e 5230/2010, que incentivavam a construção de hotéis para a copa e as olimpíadas através de incentivos fiscais.
Os espaços públicos e viários sofreram uma notável diferença, passando pela demolição da perimetral, a construção da via binário, a implantação do VLT, a revitalização da praça mauá e criação de novos museus como o MAR e o museu do amanhã. A demolição da perimetral até já foi assunto no blog pelo artigo: ruinas urbanas, a perimetral do Rio de Janeiro
Com a demolição da perimetral, espaços como a Praça XV e a Praça Mauá recuperaram a visão sobre a Baía de Guanabara. As duas praças foram interligadas pela recém inaugurada Orla Conde, que durante as olimpíadas recebeu uma série de atrações, entre elas a Pira Olímpica. No final deste boulevard, próximo aos armazéns, encontramos o painel ‘Etnias’, do artista Kobra, a maior obra de grafitti do mundo, medindo aproximadamente 3 mil metros. Outras intervenções artísticas também surgiram pela cidade durante este período, como o projeto ‘Inside Out’, do Francês JR.
Casas dos países
Durante esse período olímpico, a cidade foi tomada por delegações de diversos países. As casas dos países, que se instalaram em pontos distintos da cidade, trouxeram a possibilidade de conhecer um pouco mais sobre outras culturas sem precisar viajar, através da gastronomia, palestras, shows e exposições. Algumas dessas casas cobravam entrada (como a casa França e Holanda), algumas exigiam reserva (como a British House ou a casa do Qatar), outras eram exclusivas aos atletas (casa Italia e China) e outras eram abertas e gratuitas (como a casa da Suíça, da Republica Tcheca e a casa da África). Muitas delas continuam durante as paralimpíadas então ainda dá tempo de conferir.
Legado Olímpico
As olimpíadas não trouxeram a solução para todos os problemas do Rio mas certamente proporcionaram um momento único na sua história. Com o encerramento das paralimpíadas no próximo domingo (18) surge um novo desafio. O desafio de sustentar o legado olímpico, a conservação destes espaços e integrá-los à rotina da cidade. Como garantir o seu uso e relevância após os jogos. O grande legado dos jogos será aproveitar as lições aprendidas dos êxitos e erros cometidos para o desenvolvimento futuro da cidade.