Em continuidade com o texto anterior sobre o Instituto Salk, trago esse mês um olhar sobre outra obra de Louis Kahn – o Museu de Arte Kimbell, uma jóia que permanece uma das principais referências quando o assunto é galerias de arte ou museus de pequeno a médio porte.
Inaugurado em 1972, o Museu de Arte Kimbell está localizado em Fort Worth, uma cidade que integra a megalópole Dallas-Fort Worth, no estado do Texas, nos Estados Unidos. Composta por 12 condados, a megalópole abrange as regiões metropolitanas dos distritos Dallas-Plano-Irving e Fort Worth-Arlington. Durante a minha estadia, fiquei hospedada mais perto de Dallas mas, sabendo da existência da obra do Kahn há pouco mais de 40 minutos de carro, não pude deixar de tirar um dia para ir conhecer.
O museu fica no centro cultural da cidade, uma região que conta com diversos museus e centros de pesquisas. Para ter uma ideia, do outro lado da rua do Kimbell fica o Modern Art Museum of Fort Worth, museu projetado pelo Japonês Tadao Ando que abriga um excepcional acervo de arte moderna. Imperdível também.
Metodologia de trabalho de Kahn
Kahn acreditava que os edifícios possuíam uma essência própria, e que esta essência era determinante para a solução final. Durante o processo projetual, o arquiteto passava por três fases: a ideia, a ordem e o desenho. O primeiro momento da ideia é quando a forma expõe a sua vontade de existir e o partido do projeto é revelado. Em seguida, estes elementos são alinhados para estabelecer uma ordem, uma linguagem definidora da composição. O desenho vem por último, como o que vem trazer a riqueza do detalhe para o tratamento de cada ambiente através de soluções pontuais para a entrada de luz, detalhes construtivos, encontros entre materiais.
Kahn costumava dizer “amo os inícios”. Para ele, esse momento era primordial: “a transição entre o silêncio e a luz”.
Sobre o museu
O Museu de Arte Kimbell reúne cerca de 350 obras pertencentes a coleção de Kay e Velma Kimbell. O acervo não é muito extenso, porém é composto por obras de grande importância, dentre elas pinturas e esculturas europeias, asiáticas e africanas. O edifício de Kahn reflete essa característica do acervo em sua arquitetura – sua escala é modesta mas conta com um grande refinamento nos seus detalhes.
Os projetos de Kahn refletem uma grande preocupação com a vivência do interior. Ele costumava dizer que devíamos falar em termos de ‘lugar’, e não de ‘espaço’, e como qualquer lugar está submetido à luz, ele deve ser pensado em função da mesma. De fato, a luz é um dos principais elementos deste projeto.
O Museu de Arte Kimbell traz fortes referências à arquitetura do império romano. A estrutura em abóbodas faz alusão às antigas casas de Pompéia. Na composição, elas seguem lado a lado, gerando um efeito de ritmo e repetição.
As abóbodas contam com rasgos no topo, que seguem por todo o seu comprimento. Estes rasgos permitem a entrada de luz natural e a curvatura do teto proporciona uma distribuição difusa da luz. A luz se dissipa à medida que se aproxima das extremidades do ambiente. Este eixo de luz criado no centro das abóbodas contribui para o direcionamento do percurso da exposição.
Para que houvesse algum tipo de controle sobre a entrada de luz natural, o arquiteto criou uma espécie de filtro, uma estrutura sob o teto que permite a troca de painéis com maior ou menor grau de opacidade. Isso proporciona aos curadores um controle sobre a luz em função das obras expostas.
A importância da flexibilidade na organização da exposição também se faz evidente pela existência de paredes internas móveis, adaptáveis de acordo com as exposições.
Kahn falava muito sobre a monumentalidade na arquitetura, sobre a importância do ícone. Este museu se impõe de forma monumental. Apesar de sua escala despretensiosa, sua composição se utiliza de formas imponentes e as enfatiza através da repetição. Não obstante, o respeito com as proporções do corpo do ser humano não cai no esquecimento. Isso se torna evidente através do teto baixo, que traz intimismo para o momento de admiração das obras. Do mesmo modo, foram criados pátios internos que também oferecem um local de descanso e contemplação para os visitantes, além de ser mais uma entrada de luz natural para o interior. Não é a toa que a arquitetura de Kahn é considerada muito humana.
Eu visitei o Kimbell em dezembro de 2012. Na época, o museu estava passando por obras de extensão. O complexo receberia um anexo projetado por ninguém menos do que Renzo Piano. A escolha de Piano para o projeto da expansão é bastante sensata visto que o arquiteto italiano vem se estabelecendo como referência em termos de arquitetura de museus. Piano já assinou diversos museus em diferentes cidades americanas, muitos deles seguindo as premissas do Kimbell de pequena escala e riqueza nos detalhes. Renzo Piano chegou a colaborar no escritório de Kahn na época em que o Kimbell estava sendo desenvolvido. Algumas imagens do anexo, inaugurado em 2013.