Casa de Histórias Paula Rego, Cascais | Eduardo Souto Moura
01/08/2011

Conheci recentemente a Casa de Histórias da Paula Rego, museu em Cascais projetado pelo Eduardo Souto Moura. O projeto é ao mesmo tempo simples e preciso nos detalhes. Os espaços expositivos são surpreendentes nos seus percursos, no rompimento com os eixos, nos emolduramentos da paisagem e na relação estabelecida entre o dentro e fora. Nada é gratuito e cada detalhe faz sentido no conjunto, desde a estrutura ao detalhe da maçaneta.

Entrada da Casa de histórias da Paula Rego

Detalhe da fachada

Ruptura no percurso interno para parar e contemplar o jardim. A espacialidade interna se reflete na forma do edifício

A Casa de Histórias possui uma arquitetura marcante e singular. Primeiramente pelo uso do tom avermelhado nas fachadas, que consegue transmitir força e delicadeza ao mesmo tempo. Em segundo, pelas suas chaminés tão robustas, que chamam a atenção e predominam na paisagem. Esses contrastes espelham um pouco da feminilidade e da dura história de vida de Paula Rego e dos seus traumas do passado, que se fazem tão presente em sua obra.

Além disso, as chaminés fazem referência ao Palácio de Sintra (foto abaixo), um importante exemplar da história da arquitetura portuguesa.

Palácio de Sintra

Estive numa conferencia do Souto Moura onde ele defendia uma abordagem projetual baseada no contexto e na problemática que o programa exige. Nos seus projetos, ele prioriza os elementos mais puros do espaço, como as entradas de luz e com a hierarquia dos ambientes. Neste projeto, o olhar do visitante não é desviado por formas espetaculares. Os elementos arquitetônicos não estão aqui para nos distrair. O protagonismo é totalmente atribuído às obras em exposição, o que torna o espaço ainda mais eficaz no seu objetivo.

Tamanho é o respeito do arquiteto pelo contexto que o prédio foi originalmente concebido para se adaptar à posição das árvores existentes no terreno. Durante a construção, entretanto, elas foram removidas sem a sua aprovação.  Seu desespero foi tanto, que ele exigiu que elas voltassem depois todas para o mesmo lugar.

Foto do Café do Museu

O projeto de Souto Moura pensa em cada ângulo, cada ponto de vista do observador no espaço. Durante o percurso expositivo, há um momento em que o pé direito em um canto da sala é mais baixo. Neste ponto, há uma mudança no eixo do percurso, feita apenas para contemplar o jardim.  Outro ponto que me chamou atenção é que todos os vãos de passagem estão nos cantos da sala, integrando-se com as paredes. Ou seja, as passagens não são buracos recortados na parede, mas vazios nos pontos em que os planos das paredes se intercedem.

Passagens integradas ao desenho das salas

Para quem estiver de passagem por Cascais, recomendo conhecer a Casa de Histórias.