Biblioteca François Mitterrand | Dominique Perrault
06/08/2011
Rampa de descida de acesso a biblioteca, a esquerda. no fundo, o prédio contendo o acervo.
Praça pública elevada quase vazia

Neste projeto para a biblioteca nacional da França, o arquiteto Dominique Perrault inverteu a tipologia tradicional da biblioteca.  Ele expôs o acervo ao sol e colocou as salas de leitura protegidas no interior do edifício.  No seio desse conjunto, construiu uma gigantesca floresta artificial à qual os leitores não tem acesso, a não ser visualmente.  O acesso à biblioteca é feito através de uma grande praça elevada.  Para chegar até ela, subimos uma imponente escadaria para então descermos novamente uma rampa que nos leva à entrada. Essa passagem obrigatória pela praça garante a presença de algumas pessoas, embora não seja o suficiente para trazer vida ao lugar. Devido à sua escala monumental, a praça parece estar sempre vazia. Quando penso neste espaço, o resultado me parece interessante mas, sempre que estou lá, me causa um estranhamento.

Escadaria de acesso a praça elevada da biblioteca

A escadaria está voltada para o Rio Sena. Supostamente, além de passagem ela deveria ser como um grande ambiente contemplativo para avistar a paisagem parisiense. Isso, infelizmente, não acontece muito.  Sua escala é tão intimidadora e o vento que bate ali é tão forte que não encontramos muitas pessoas desfrutando de nenhum destes espaços públicos fabricados.

A circulação interna é toda organizada em torno de uma floresta artificial.  Ou seja, para fazer qualquer coisa na biblioteca, é preciso percorrer grandes distâncias de modo a contornar esse gigantesco jardim interno. Algo que chega a ser meio inconveniente, ainda mais pra quem precisa ir lá com freqüência para as suas pesquisas.  Todo o processo de pedir um livro do acervo, por exemplo, se torna mais demorado.  Você chega a esperar uma hora para que ele saia do acervo e chegue até a sua sala.

Mas o projeto tem os seus méritos.  Os detalhes são muito bonitos.  Os encontros e sobreposições dos materiais são muito bem feitos – as chapas metálicas, com as ripas de madeira e a estrutura em concreto.

E eu ainda desfrutei de uma grande vantagem.  Tive a oportunidade de descer ao “rez-de-chaussé” – o  térreo do edifício – onde se encontram as salas para pesquisa avançada.  Fiz uma entrevista com os bibliotecários e pude acessá-lo.  É magnífico! Para mim, esse é o ponto áureo do projeto.  A altura é majestosa.  Você se sente entrando num antro do saber.  As entradas de luz zenitais nos dão uma impressão de ascender rumo a um conhecimento superior.  É uma pena esse segmento ser restrito à maior parte dos visitantes. Por outro lado, talvez seja isso que o dê esse gostinho tão especial.  Um segredo magnífico compartilhado somente pelos pesquisadores.

Entradas de luz zenitais
Escadaria de acesso a praça elevada da biblioteca

Acho que esse projeto está longe de ser perfeito.  Tampouco considero essa a biblioteca mais interessante que já vi. Compartilho algumas das críticas e alguns dos elogios ao projeto.  Particularmente, ainda não decidi se gosto ou não dele.  Mas sem dúvida, acho que o projeto que levanta questões interessantes. Gosto como o grande ‘objeto’ do projeto é o vazio entre as torres. Certamente há falhas no funcionamento, mas também, se não questionarmos as regras, nunca fugimos do óbvio.