Em 2019, a Casa da Música do Porto comemora 14 anos. Inaugurada em 14 de março de 2005, a Casa da Música teve o seu projeto assinado pelo escritório holandês OMA, sob a direção de Rem Koolhaas, e tornou-se um grande ícone da cidade. Além de oferecer uma ampla variedade de shows, concertos e apresentações, a Casa organiza tours diários do prédio em inglês e português.

A Casa da Música é inovadora em diversos sentidos e isso se reflete em cada detalhe do projeto, a começar pela sua implantação. O arquiteto Rem Koolhaas defende que a tendência da cidade é se transformar e que o entorno do edifício, portanto, não deve necessariamente ser determinante para o objeto. Com isso em mente, ele optou por não seguir o alinhamento da rotunda da Boa Vista, localizada logo em frente ao prédio. Ao contrário, o objeto rompe com a forma urbana predominante do local. Diferente das demais construções ao redor da rotatória, a Casa da Música não segue o desenho do perímetro da quadra. O projeto se destaca dos limites do terreno, ocupando o seu centro.

Esse distanciamento das divisas permite a sua visualização à distância e a admiração de sua forma escultórica. A praça formada por este afastamento é revestida por um mármore travertino cuja cor e textura se assemelham àqueles da cortiça, um dos principais produtos de exportação de Portugal.


A volumetria do objeto é um poliedro irregular. O prédio se assemelha a um diamante bruto. A estrutura é toda de concreto aparente, o que revela o material e método construtivo empregado. Podemos até observar os limites das fôrmas de madeira, utilizadas no processo construtivo, impressos no concreto.

O conceito da transparência predomina por quase todo o projeto. Além da crueza do concreto aparente já mencionado, outra solução que ressalta essa transparência é o uso de placas metálicas perfuradas como divisórias e revestimento. Isso permite a continuidade visual entre um ambiente e o outro, mesmo quando possuem funções distintas, como é o caso do lobby e as salas de ensaio. Apesar da transparência visual, o som é contido graças ao condicionamento acústico e os vidros duplos nas divisórias. As placas perfuradas utilizadas como revestimento de paredes e teto oferecem a visibilidade sobre os sistemas de instalações para que o usuário possa entender o funcionamento do edifício.


Essa dualidade entre o que é fechado e revelado é preservada também no auditório principal, que ocupa o núcleo do edifício. Nas duas extremidades do auditório há grandes aberturas com vidros ondulados que possibilitam a quem está assistindo o espetáculo, a avistar também a cidade ao fundo. Do mesmo modo, quem está na rua pode observar o movimento no interior do prédio. Isso permite uma relação mais direta do interior do edifício com o espaço urbano. Koolhaas defendia que essa transparência e continuidade do espaço interno com o externo é mais forte do que apenas seguir o mesmo alinhamento das construções vizinhas.


O vidro ondulado trabalha melhor em termos acústicos do que o vidro reto. O vidro ondulado na fachada é uma solução que já foi comentada aqui no blog em outro projeto: o MAS na Antuérpia.
O auditório principal possui capacidade para mais de 1200 lugares. Trata-se do coração do edifício. Há salas menores ao redor que possuem funções distintas – algumas educativas, outras sociais, outras são salas de concerto menores – e muitas dessas possuem uma visualização direta para o grande auditório. Ou seja, novamente a transparência permite uma comunicação direta entre os espaços diversos.

Para diferenciar a função de cada espaço, cada sala recebe um tratamento singular. Há duas salas educativas para crianças que levam um piso mais macio com cores lúdicas. No caso, uma sala é roxa e a outra é laranja.

Há ainda uma sala tipo um hall para a sala de concertos menor que é inteiramente coberto por uma cerâmica geométrica, típica da cidade do Porto. Por fim, há ainda uma outra sala que é inteiramente revestida por azulejos azuis e brancos, fazendo referência ao período barroco Português. Muitas das cenas retratadas aqui são réplicas de cenas na estação de São Bento, no Porto, e umas também de Lisboa. Há uma última cena, próximo da janela, que é de um painel holandês. Esse painel está de cabeça pra baixo, estabelecendo um contraste mas que não deixa de ficar integrado com o todo. Isso fortalece o vínculo entre Portugal e Holanda, o país de origem do arquiteto cuja história também traz essa cultura da azulejaria.

É interessante constatar como apesar do prédio parecer bastante fechado quando avistado de fora, há muitas aberturas entre as salas e também das salas para o exterior.

No térreo há um café e na cobertura há um restaurante que desfruta ainda de um terraço. O terraço, além de um revestimento quadriculado preto e branco que toma o piso e as paredes, conta ainda com uma esplêndida vista sobre a cidade. A Casa da Música é uma jóia e recomendo fortemente a visita a quem estiver de passagem pela cidade do Porto.