CONCURSO PARA UM CENTRO DE YOGA EM PORTUGAL

Conceito e partido

O que um espaço para a prática de ioga, inserido num vilarejo no meio das montanhas, cercado de verde e de céu, quer ser? Essa é a primeira pergunta que procuramos responder ao embarcar no desafio de projetar o novo pavilhão para o Retiro de Ioga do Vale de Mosés, pois um edifício deve manifestar uma intenção: tal é a responsabilidade e desafio do arquiteto. Debruçando-se sobre a história da arquitetura portuguesa e sobre a história das pessoas que se instalaram nesse sítio e fundaram um lugar de encontros para a troca de conhecimentos da prática da ioga, buscamos extrair o sentido da própria arquitetura a ser implantada. O que o edifício quer ser?

Em acordo com tais reflexões, acreditamos que o significado desse edifício pode ser expresso pela potência da arquitetura vernacular – por definição intuitiva e acessível. Privilegiar o uso de técnicas simples e materiais locais, aliadas à racionalidade modular para ordenação e distribuição dos espaços, parece-nos o caminho mais contundente para materialização da proposta arquitetônica.

Materialidade e sustentabilidade

Partindo da premissa de desenvolver um projeto de construção com baixo impacto ambiental e ao mesmo tempo economicamente viável, elege-se a terra e a madeira como materiais principais da arquitetura do pavilhão, empregando-os em variados métodos construtivos – como paredes de pau-a-pique, abóbadas de tijolos de adobe, radies em terra ensacada compactada e pórticos estruturais em madeira. As diferentes técnicas arquitetônicas em estrutura mista de adobe e madeira não apenas possibilitam uma implantação com mínimas interferências no terreno, reduzindo custos estruturais com operações geotectônicas, como também implementam a reutilização do volume de terra escavado.

Programa e espacialidades

O programa arquitetônico consiste em três espaços com usos específicos além de sistemas de coleta e armazenamento de água e geração de energia elétrica. Os espaços se resumem à shala, que é a sala onde acontecem as práticas guiadas da ioga (e onde encontram-se todos os equipamentos necessários para as mesmas), vestiários e copa com dimensão para abrigar uma pequena cozinha. Os sistemas de coleta de águas pluviais e geração de energia, por sua vez, concentram-se na cobertura do edifício, contando com uma série de calhas que direcionam o volume de água para uma cisterna, e com placas de captação de energia solar, cujas baterias – assim como as caixas d’água – estarão armazenadas em depósitos com visitas técnicas situados acima dos volumes de vestiários e cozinha.

O projeto se divide espacialmente em seis módulos, demarcados nas extremidades por pilares de madeira, e sua cobertura também reflete tal divisão na forma de seis abóbodas de berço. A arquitetura do pavilhão se conecta ao jardim por dois ambientes avarandados que atravessam longitudinalmente metade o edifício, nas fachadas Leste e Oeste, percorrendo os três primeiros módulos até chegarem na sala de aula. Entre essas duas varandas cobertas encontram-se a cozinha – semiaberta para jardim, estimulando o convívio em torno da comida e do seu preparo – e os vestiários – alocados na parte central da construção. Na sala de ioga, que ocupa três dos seis módulos do pavilhão, grandes janelas orientadas para Oeste tiram proveito da vista e convidam a paisagem para o espaço interno. A extremidade da sala orientada para o Norte conta com painéis pivotantes que se abrem para o exterior, permitindo o prolongamento para o espaço externo e a realização da prática em maior contato com a natureza.


Ficha Técnica

Projeto

Mariana Magalhães Costa e Patrícia Tinoco

Renders

Gustavo Andrade