Adolf Loos e a crítica ao ornamento
14/03/2016

Reconhecido como um dos pioneiros do design moderno, Adolf Loos é um dos grandes nomes da arquitetura austríaca. Nascido na cidade de Brno, na Czechoslovakia em 1870, Loos passou a sua juventude na sua cidade natal e se mudou em 1890 para Dresden, onde cursou a faculdade. Logo após se formar, chegou a viver três anos nos Estados Unidos, onde entrou em contato com a arquitetura de Louis Sullivan, e eventualmente regressou à Europa, estabelecendo um escritório em Viena em 1898.

Apesar da sua importância na história da arquitetura, é interessante descobrir que o seu escritório recebia um número baixo de propostas de trabalho.  Seus traços eram vanguardas demais para a época, o que fazia com que suas obras fossem amplamente criticadas.  Por isso, Loos acabou se tornando mais conhecido por suas teorias do que propriamente pela sua arquitetura; desenvolveu conceitos que futuramente seriam incorporados às obras e aos discursos de grandes nomes como Le Corbusier e Mies Van der Rohe.

O Modernismo e a Secessão Vienense

De acordo com historiador Giulio Carlo Argan, o período denominado ‘Moderno’ é aquele que se passa entre os anos de 1890 e 1910. É um movimento que abrange diversas tendências arquitetônicas, entre essas o “Art Nouveau” na Espanha, Bélgica e França, o “Jugendstil” na Alemanha e o “Floreale” ou “Liberty” na Itália.

Na Áustria, a vertente predominante deste movimento foi a “Secessão Vienense”, caracterizada por padronagens florais e a busca de inspiração na natureza, desenvolvendo formas mais curvas e detalhadas. Havia uma vontade de unir as grandes artes (arquitetura, design mobiliário) com as menores (belas artes, pinturas e esculturas).  Pensava-se que, além de funcional, o objeto deveria ser belo também.  O objetivo era transformar os objetos do cotidiano em obras de arte.

Adolf loos irá romper com esse movimento.  Ele acreditava que isso era uma banalização da arte. Para ele, a arquitetura não precisa ser plasticamente sofisticada, mas sim funcional e econômica.  Em 1908, Adolf Loos redige um artigo intitulado “Ornamento e Delito” onde, além de expor a sua rixa contra a Secessão Vienense, ele realiza uma apologia contra todos os tipos de ornamentos.

Ornamento e Delito, 1908

“A evolução da cultura é equivalente à retirada de ornamentos dos objetos usuais”

— Adolf Loos, “Ornamento e Delito”

Através do seu artigo “Ornamento e Delito”, Loos pretendia convencer a todos que o ornamento era algo do passado – algo que inevitavelmente seria deixado para trás já que traz consigo dívidas e gastos supérfluos.  Ele questionava o porquê de se apegar a algo transitório e efêmero, a algo que estava com os dias contados, que só contribuía para a miséria do país?  Para o arquiteto, o ornamento pertenceu ao clássico e não fazia mais sentido no presente. Manter estes adornos significava manter a própria cultura estagnada, o ornamento havia se tornado algo antinatural, chegando a ser por vezes algo insuportável e nocivo.

Raumplan 1910-1930

De 1910 a aproximadamente 1930, Adolf Loos elabora uma série de projetos chamada ‘Raumplan’. Loos funda em 1912 uma escola de arquitetura onde ele ensina os princípios do ‘Raumplan’, que pregava o ideal da arquitetura simples, lógica e funcional. Sua escola foi fechada pouco tempo após a sua inauguração, por conta da primeira guerra mundial, e voltou a ser aberta em 1920.  Entre os seus alunos, estavam os arquitetos Richard Neutra e R.M. Schindler, que mais tarde seguiram carreira nos Estados Unidos.

A Casa Steiner (1910) foi o primeiro projeto desta série, sendo até hoje considerada uma de suas obras de maior distinção. Os seus clientes pediram uma casa espaçosa mas a legislação permitia a construção de apenas um andar além do térreo. A solução encontrada para a casa Steiner conciliou estas duas premissas.  Loos projetou uma casa de quatro andares mas, na fachada frontal, ele cobre os pavimentos superiores com o material metálico do telhado, camuflando os pisos superiores.

Fachada frontal da casa steiner

Esses andares a mais são revelados na fachada dos fundos.  As janelas nas extremidades se projetam em blocos salientes, dando um volume para a fachada dos fundos enquanto a fachada frontal é inteiramente plana.  Além disso, a placa de metal curva é substituída nos fundos por um telhado plano de cimento e madeira, o que realça os traços retos do projeto.

Loos considerava que toda cultura dependia de uma certa continuidade com o passado, o que não significava necessariamente repetir as mesmas tendências já extintas. A casa expressa justamente essa a ambigüidade entre o clássico e o moderno. Um mesmo edifício traz na fachada frontal o telhado curvo de metal, típico das antigas casas vienenses, e uma composição nos fundos completamente sóbria, já tendendo ao modernismo. Esse projeto chegou a causar incômodo entre os vizinhos. Esses solicitaram que eras fossem plantadas eras sobre a fachada para amenizar a sobriedade e a rigidez das formas.

Casa Tristan Tzara

A Casa Tristan Tzara (1926) em Paris é composta por cinco pisos mas estes não se revelam na fachada.  A fachada frontal está subdividida em duas partes simétricas – a inferior com acabamento de pedra e a superior em emboço. Os muros externos são interrompidos por pequenas janelas e grandes aberturas, conferindo à casa uma monumentalidade quase escultural.  Já a fachada dos fundos dá a impressão de que a casa possui somente três pisos.

Conclusão

Se lembrarmos que Loos era contemporâneo de arquitetos como Antoni Gaudí, cuja produção arquitetônica era colorida e ricamente ornamentada, não nos surpreendemos com o fato de que a sua sóbria arquitetura não era bem recebida. Poucos eram os arquitetos de sua época com os quais Loos se identificava. Entre esses poucos estavam Louis Sullivan e Otto Wagner, que assim como ele, pregavam a abstenção dos ornamentos.

“Tudo correria muito bem se os arquitetos fossem autorizados a construir edifícios muito simples.”

— Louis Sullivan

Mais do que uma preocupação com a estética, Loos sempre demonstrou um grande envolvimento com as necessidades do povo, com a identidade cultural do país, remanescente das tradições dos estilos passados.  Era um homem com uma visão do futuro, e que esperava conduzir a Áustria para que ela também acompanhasse as inovações tecnológicas do mundo moderno.  Essa sua conduta é o que o distingue e o faz ser admirado e estudado até os dias de hoje.