Inhotim | Brumadinho, Minas Gerais
09/02/2015

Inaugurado ao grande público em 2006, o centro cultural Inhotim vem sendo destacado entre os principais museus a serem visitados no mundo. Agregando um importante acervo de arte moderna e contemporânea, o museu conta com obras de artistas como Adriana Varejão, Yayoi Kusama, Olafur Eliasson, Miguel Rio Branco, Hélio Oiticica, Lygia Clark e muitos outros.

Situado em Brumadinho, um município de 35 mil habitantes, o museu Inhotim fica a aproximadamente 50 km da capital do estado de Minas Gerais, Belo Horizonte.  A localização afastada já requer uma viagem até lá, um ato de peregrinação em busca da arte.  A viagem, portanto, é um período de transição, de preparação. A sensação ao chegar lá é de que se adentra um lugar realmente especial, quase sagrado, e longamente aguardado.

A beleza de Inhotim jaz sobre três instâncias – paisagística, artística e arquitetônica. O local em si é belíssimo – os diferentes percursos proporcionam belos e aconchegantes pontos de descanso, meditação e contemplação da paisagem. Os caminhos são pontuados por grandes obras de arte e por pequenas construções – pavilhões que reúnem obras de artistas convidados.  Estas edificações tiram proveito de sua pequena escala e liberdade criativa para oferecer soluções inovadoras de design e arquitetura.

Paisagismo

Não passa despercebida a beleza do mobiliário assinado por Hugo França.  São 98 exemplares espalhados pelo jardim.   O designer passou 15 anos vivendo em Trancoso, na Bahia, onde descobriu o pequi-vinagreiro, uma árvore comum na Mata Atlântica baiana mas pouco utilizada na marcenaria devido às suas irregularidades. A partir de raízes desenterradas, troncos ocos e galhos dessas árvores, França desenvolveu um novo tipo de mobiliário, extremamente único e contundente.

Mobiliário desenhado por Hugo França

Arte

Yayoi Kusama, a artista japonesa já foi assunto aqui no blog no texto Yayoi Kusama no CCBB A obra intitulada “O Jardim de Narciso”(2009) traz esferas metálicas, espelhos convexos que ocasionam o encontro do indivíduo consigo mesmo. A obra evoca o mito de Narciso, que se encanta com a própria imagem projetada na água e, ao tentar resgatá-la, afoga-se no lago. Apesar do símbolo principal da obra ser a esfera refletora, a obra é uma conjunção deste elemento com o entorno, cuja composição muito se assemelha à dos jardins japoneses. A organização e aparência das bolas variam de acordo com o vento, com a luz e demais fatores externos, o que aumenta a percepção de influência da natureza.  A obra portanto proporciona um momento de dupla contemplação: um momento de interiorização e um de consciência do que está ao redor.

Hélio Oiticica, Magic Square #5 (1977) A tradução do termo em inglês ”Square” traz dois significados diferentes – a praça e a forma do quadrado. Na obra, Oiticica se utiliza de ambos os conceitos. A obra faz parte de uma série de 6 obras intituladas “Penetráveis”, todas construídas após a morte do artista. Nessa obra, o seu trabalho consistiu na produção de desenhos técnicos, diagramas e amostras que explicavam com detalhes a construção dos módulos.  O resultado é um espaço de convívio e permanência, onde a cor se manifesta de forma eloquente.  Um estudo sobre a ocupação do espaço, a influência da cor e a relação do objeto com o entorno. Essa obra é coerente com o princípio que Oiticica defendia em suas obras, aquele de aproximar a arte e a vida, algo que também encontramos na galeria ‘Cosmococas’Lá, através de uma série de ambientes, o público tem a oportunidade de interagir com a obra – seja mergulhando numa piscina, deitando na rede ou simplesmente lixando a unha.

Magic Square #5, de Hélio Oiticica

Cildo Meirelles – Inmensa(1982-2002) Escultura em aço cortén.  A obra explora diferentes escalas de um mesmo elemento, explorando relações espaciais alternadas da escultura com o contexto e dos componentes entre si.  Formas geométricas cujo arranjo faz referência a conceitos externos à obra. O próprio título já indica isso visto que o termo “in mensa” significa na/sobre a mesa em latim. É interessante observar que a obra também propõe uma inversão de lógica, visto que os elementos menores sustentam os maiores.  Esse gesto pode ser interpretado como uma metáfora de questões maiores como as estruturas políticas, econômicas e da própria sociedade.

Inmensa, de Cildo Meirelles

Amílcar de Castro – Gigante Dobrada(2001) Escultura em Aço Cortén traz uma figura geométrica que se fecha em si mesma. Nesse movimento, uma única placa gera a distinta percepção entre o dentro e o fora, entre o interior e exterior. Um elemento bidimensional rompe as suas barreiras físicas e estabelece propriedades de espacialidade.

Gigante Dobrada, de Amílcar de Castro

Olafur Eliasson – Viewing Machine (2001) O artista dinamarquês Olafur Eliasson é conhecido pelo seu trabalho de pesquisa de luz, forma, cor e reflexos. Na sua obra ‘Viewing Machine’ em Inhotim, o artista criou um caleidoscópio com o qual podemos ver a vista.  Através deste instrumento, vemos a paisagem de brumadinho com outros olhos, apreciando novos ângulos e distorções.

Viewing Machine, de Olafur Eliasson

Chris Burden – Beam Drop (2008) Obra ‘site specific’ (feita para o local) na qual gigantescas vigas de aço foram lançadas em um buraco preenchido por concreto no estado fresco.  Após a performance e o período de cura, as vigas permaneceram como um grande escultura.

Beam Drop, de Chris Burden

O vídeo a seguir mostra como foi esse processo:

Troca-Troca – Jarbas Lopes (2002) 3 fuscas coloridos, com a lataria permutada entre si, percorreram em 2002 um trajeto saindo do Rio de Janeiro indo até Curitiba. No caminho, foram juntando histórias, experiências, memórias. Em 2007, os fuscas voltaram a pegar a estrada – desta vez de Belo Horizonte a Brumadinho. Além da descontração e coletividade pela troca das peças dos automóveis entre si, o fato dos carrinhos estarem estacionados porém com a permanente possibilidade de sair para a estrada novamente, dão a obra um caráter transitório, inconstante, inquieto, efêmero e lúdico.

~troca-troca~ de Jarbas Lopes

Arquitetura

Galeria True Rouge – Tunga

O mineiro Paulo Orsini assina o projeto da Galeria True Rouge, o primeiro pavilhão a ser construído em Inhotim.  O Pavilhão abriga a belíssima obra “True Rouge”(1997), de Tunga. O projeto explora as premissas do movimento moderno; a ‘promenade architecturale’ pela passarela sinuosa de acesso; o pilotis da varanda, gerando um abrigo e ambiente de estar do lado de fora da galeria; o espelho d’água que proporciona um afastamento do objeto para que ele possa ser avistado a distância; e a fachada livre, que permite uma visualização da obra de Tunga a partir do exterior graças à transparência do vidro.

Pavilhão Adriana Varejão

Projetado por Rodrigo Cerviño Lopez, o pavilhão contendo as obras da artista Adriana Varejão tornou-se um dos grandes símbolos de Inhotim.  O objeto morde o terreno em aclive, enterrando-se parcialmente enquanto outra parte permanece suspensa, em balanço.  É através deste vazio sob o edifício que é realizado o acesso à galeria. A circulação interior não é feita por corredores – ela é direcionada pelas aberturas e continuações dos próprios espaços. O percurso livre oferece ao visitante uma multiplicidade de pontos de vista sobre o prédio e as obras em exposição. Um passeio que se inicia no espaço externo, pelo caminho de acesso sobre o espelho d’água, passando por dentro dos espaços expositivos e terminando enfim num terraço na cobertura.

O centro cultural é bastante inovador em termos da renovação do seu acervo.  Há obras “site specific” que são permanentes, porém muitas das galerias renovam o seu acervo e, de tempos em tempos, um novo pavilhão ou obra de arte são construídos no local.

Inhotim proporciona simultaneamente ao visitante um deslumbramento intelectual e um momento de descanso.  Ao retornar a civilização e à correria da rotina, voltamos de lá leves, com uma paz de espírito. Ao sair de Inhotim, a vontade é de voltar ainda muitas vezes ao museu.