Fundamentals | Biennale di architettura Venezia 2014
08/11/2014

“Architecture is a strange mix of obstinate persistence and constant flux.”

— Rem Koolhaas

Com curadoria do arquiteto Rem Koolhaas, diretor do OMA, a bienal de arquitetura de Veneza deste ano foi organizada sob o tema ‘Fundamentals’, ou ‘Elementais’, trazendo o foco para os elementos básicos da arquitetura (a janela, a porta, o teto, a parede, a varanda, etc.). São elementos utilizados em construções pelo mundo inteiro sendo que pouco é discutido acerca dos mesmos.  Dificilmente o arquiteto interrompe o ato de projetar para contemplar sobre cada um deles.  Como a sua essência nunca é colocada em questão – eles simplesmente são – é válido afirmar que muitos arquitetos desconhecem o histórico e evolução destes elementos. Mais do que isso:  os arquitetos trabalham a partir de um imaginário estático e consolidado, sem considerar que eles estão em constante transformação e inovação. A exposição é resultado de uma pesquisa desenvolvida por alunos da Harvard Graduate School of Design e foi compilada no livro “Elements of Architecture“.

Em entrevista, Koolhaas diz que cada elemento possui um DNA próprio. O objetivo da mostra é analisá-los individualmente e destrinchar o seu DNA, compreender a sua memória, entender como estes elementos chegaram aos seus estados atuais e questionar para onde eles estariam caminhando.

Dentro deste conceito de resgate histórico, a primeira sala da exposição é dedicada às grandes obras teóricas da arquitetura. Aqui encontramos extratos e exemplares das publicações de Vitruvius, Leon Alberti, Eugéne-Viollet-Le Duc, Adolf Loos, Le Corbusier, entre outros. Nesta introdução, deparamo-nos também com uma projeção com recortes de cenas do cinema, na qual os elementos básicos da arquitetura aparecem em primeiro plano. Essa montagem demonstra como um entendimento sobre estes elementos vai muito além dos interesses da arquitetura, permeando outras áreas do saber.

A seguir, descrevo alguns dos elementos analisados na mostra:

Teto

Os tetos são classificados em dois tipos: sólidos ou ocos.  O teto sólido é a parte de baixo do piso do pavimento imediatamente superior.  Ele não concilia nada por trás, sendo considerado uma solução mais ‘honesta’.  Já o teto oco – representado pelo forro – trás uma nova e misteriosa tridimensionalidade a este elemento. A solução do teto oco ganhou maior importância nos edifícios contemporâneos de grande escala, sobretudo pela sua capacidade de conciliar os dutos de instalações e equipamentos.

Teto como ornamento
TETO funcional

A Janela

Mais do que uma conexão visual entre ambientes e o dentro/fora, a janela pode ser um ambiente por si só; ao exemplo das “baywindows”, seus parapeitos servem como apoio ou assento.  Sua transparência varia e pode ser articulada a outros elementos que filtram a interação entre os espaços, como cortinas, persianas, venezianas.   Com o advento da arquitetura moderna, as premissas das fachadas livres de estrutura e as janelas em fita, o vidro tornou-se principal componente das janelas, tomando conta por completo do vão emoldurado.  O mesmo ocorre com as esquadrias dos edifícios contemporâneos.  O vidro oferece transparência, ou seja luminosidade para o espaço, e ao mesmo tempo total encerramento e controle térmico.

As múltiplas formas das janelas
Teste de desempenho e durabilidade das esquadrias
Fragmentos – As peças que compõem a esquadria

Corredor

Originalmente associado à figura do corredor, que corria de um lugar ao outro para entregar mensagens, o conceito de percurso foi eventualmente incorporado pela arquitetura.  O corredor tornou-se um elemento de organização espacial, sobretudo após o modernismo, muito associado à ideia de escape.  Hoje, o corredor voltou a extrapolar os limites da arquitetura, abrangendo também o urbanismo através dos corredores de transportes e canalizadores de fluxos.

Fachada

Apesar de estar associada às noções de desenho e estilo, a fachada talvez seja o elemento arquitetônico que mais se submeta às influências dos avanços tecnológicos e do contexto histórico no qual se insere.  A fachada é o filtro absoluto entre o dentro e fora, influindo sobre a luminosidade, o controle da temperatura interna, etc.  Ele também é o símbolo do empreendimento, a sua imagem caracteriza o edifício.

Fachada mediática

Parede

A parede sempre se destacou por duas funções vitais: a estrutural e de divisória entre os espaços. Com os avanços tecnológicos, elas perderam a primeira função, tornando-se elementos mais efêmeros na composição.  Essas mudanças deram margem à criação do conceito de planta livre e o potencial de múltiplas composições espaciais.  Com isso, sua materialidade e dimensões gerais foram mudando, tornando-se mais leves e finas ao longo do tempo.

Fachada Cinética
Fachada Verde

Porta

Além de moldura para passagem, a porta também representa a barreira, a tranca.  Assim como os demais elementos, ao longo das últimas décadas a porta também se associou a elementos alheios a ela com a finalidade de adquirir novas funções.  Hoje a porta pode abrir automaticamente a partir de sensores de movimento, ela pode detectar metais e até mesmo  realizar ‘body scans’. Um elemento associado ao controle devido à sua forte relação com o conceito de segurança.

Escadas

Muitas vezes designadas um caráter utilitário, as escadas comumente são alocadas aos cantos dos ambientes, por vezes quase escondidas para não interromper ou interferir no espaço.  Historicamente, entretanto, as escadas possuíam uma importância icônica. Externamente, os degraus eram utilizados para criar um patamar elevado de acesso, afastando a entrada principal do nível da rua.  Hoje, com a preponderância de valores como a acessibilidade universal, o uso de escadas e degraus para a criação de patamares diferenciados é desestimulada.  A sua subida implica um esforço adicional, tornando-a um elemento antidemocrático dentro do espaço, apesar de ainda ser uma das soluções mais eficientes para as situações de escape.

Varanda

A saliência da arquitetura.  Historicamente, a figura da varanda está fortemente associada ao ato político.  Uma rebeldia da arquitetura na qual o espaço íntimo avança rumo ao exterior.  Não é surpreendente que a varanda tenha se tornado instrumento para discurso político.  Com isso em mente, a exposição resgata centenas de fotografias de governantes de variados países em diferentes momentos históricos, todos se aproveitando da tipologia da varanda para o seu discurso.

“without the balcony, there would have been no history”

Por outro lado, somos também convidados a adentrar outro tipo de varanda que traz filtros ou ‘muxarabis’ que impedem a visualização de quem está fora para dentro, garantindo assim uma privacidade aos moradores.  Nesse caso, mais empregado nos programas residenciais, os moradores no interior podem observar o movimento da rua sem serem vistos.

Muxarabis – tipo de varanda que oferece privacidade a quem está no interior