Hospital Sarah Kubitschek, José Filgueiras Lima | Rio de Janeiro
30/05/2014

Faleceu semana passada um dos grandes representantes do movimento moderno no Brasil, o arquiteto José Filgueiras Lima, mais conhecido como Lelé. Suas obras tornaram-se referência tanto pelo seu rigor técnico, particularmente em relação à pesquisa de materiais e utilização de estruturas pré-moldadas, quanto por sua sensibilidade e adaptação ao clima local. Dentre as suas obras mais emblemáticas, destacam-se os seus projetos para a rede Sarah de Hospitais.  Tive a oportunidade de visitar uma dessas unidades em 2009 pouco antes de sua inauguração – o Centro Internacional Sarah de Neuroreabilitação e Neurociências, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

O hospital é tido como um dos programas mais complexos que se pode projetar dentro da arquitetura; os fluxos não podem se cruzar devido ao risco de contaminação, a ventilação deve ser controlada, a gestão de resíduos também deve que seguir uma série de procedimentos específicos, etc.  Apesar dessa rigidez, o traço do arquiteto não é ofuscado pela busca da funcionalidade.

A beleza da composição jaz no contraste entre a força da repetição e a leveza das coberturas curvas

Além do hospital, há um auditório para eventos e conferências médicas.  Esse adota uma forma lúdica – quase uma gota – e possui uma claraboia cuja abertura assemelha o movimento do desabrochar de uma flor.

Claraboia sobre o auditório
Abertura da claraboia vista de dentro – movimento se assemelha ao desabrochar de uma flor

Lelé se preocupava muito com o conforto térmico e a eficiência climática dos seus edifícios. Uma solução que reflete essa preocupação, e se faz presente na maior parte dos espaços do hospital, é a existência de uma claraboia retrátil interna.  Nos dias mais quentes, essa é fechada, diminuindo o volume interno do espaço e portanto a demanda de ar condicionado. Em dias mais frescos, essa cobertura é aberta, o que permite uma ventilação natural a partir dos ‘sheds’ presentes na cobertura superior.

Jardim interno refresca e alegra o ambiente
Detalhe da cobertura retrátil interna que permite a diminuição do volume do espaço e uma maior eficiência do sistema de ar condicionado

Cobertura retrátil e sheds por cima, que permitem a entrada de luz natural no espaço

Acesso a deficiente físico

Cores lúdicas e espaços claros tornam o ambiente mais leve e aliviam o peso do tratamento. Estes fatores influenciam na recuperação e na autoestima dos pacientes

O Lelé participou do processo de construção de Brasília na década de 50 e de fato, lá que foi construído o primeiro hospital da Rede Sarah, em 1980. Hoje a rede está presente em seis cidades brasileiras.