X | A décima edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo
04/12/2013

Terminou ontem, domingo dia 01 de dezembro, a décima edição da Bienal de Arquitetura de São Paulo. O tema da bienal deste ano foi “Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar”. Diferente das edições anteriores, realizadas ou no Pavilhão da Bienal ou na Oca, ambos projetos do arquiteto Oscar Niemeyer situados no Parque Ibirapuera, a edição deste ano optou por romper com este passado e se expandir pela cidade.

A mostra foi fragmentada em diversas unidades de exposição. Dentre os centros que sediaram uma parte do evento havia o Centro Cultural de São Paulo(CCSP), o Museu de Arte de São Paulo  Assis Chateaubriand(MASP), o SESC Pompéia, a Praça Victor Cívita, o Cemitério do Araçá, entre outros.

Em virtude da minha curta estadia na cidade, eu pude apenas visitar dois desses espaços expositivos – o CCSP e o MASP. Apesar de não visitar a bienal em sua totalidade, fiquei muito feliz com o resultado e muito bem impressionada com essa nova disposição da bienal.

Centro Cultural de São Paulo

Primeiramente, acredito que ao espalhar a bienal por vários centros culturais, a cidade participa mais ativamente da exposição. Aliás, quando se fala de arquitetura, invariavelmente falamos de cidade. Trazer o urbano para uma bienal de arquitetura cujo tema é “Cidade: Modos de Fazer, Modos de Usar”,  além de ser um gesto audacioso, permite ao visitante uma reflexão muito mais aprofundada sobre o tema.

Cobertura ajardinada no Centro cultural de São Paulo
Espaços de convivência do CCSP

Além disso, há tempos eu sentia que o fato de concentrar todo o acervo da exposição num mesmo espaço gigantesco, como era o caso no Pavilhão da Bienal, tornava a visita muito monótona. O conteúdo variava pouco e chegava um momento em que você não conseguia mais assimilar qualquer informação. Nesta edição, a transição de um centro cultural para o outro permitiu ao visitante um momento de respiro, um momento para vivenciar o fluxo da cidade de São Paulo e um momento para contemplar a sua paisagem. Só esse movimento já é muito mais esclarecedor do que muitos vídeos e textos com os quais nos deparamos na exposição.

Quanto a mostra em si, abordarei apenas as duas exposições que visitei.

No MASP, estava em cartaz a exposição “O Asfalto e a Areia”, no segundo subsolo. Nela, uma apresentação da produção de importantes artistas e arquitetos brasileiros nos anos 1960 e 1970, entre eles Vilanova Artigas, Paulo Mendes da Rocha, Lina Bo Bardi, Hélio Oiticica e Cildo Meireles. Através de instalações, vídeos e textos, percebemos o diálogo e o confronto existente entre as esferas pública e privada no Brasil, algo que se reflete na dicotomia entre a rua e a praia.

Havia também umas séries de fotografia que abordavam o território em transformação. Dentre essas, a série “Paisagem e Terra”, de Pedro Motta, ou a “Onda de São Paulo” de Isidro Blasco. Algumas instalações também que convidavam o visitante a interagir, como o vídeo feito por um ciclista, que só é projetado a partir do momento que o visitante monta na bicicleta em exposição e começa a pedalar para ativar o projetor.

Já o CCSP, destacado como a base principal da Bienal, reuniu o maior conjunto de pesquisas e exposições produzidas especialmente para o evento.

“Le Grand Ensemble” Serie Explosions (2001-2008) Mathieu Pernot

““Fazer” e “usar” a cidade pareciam ser, até pouco tempo atrás, pares dicotômicos, que aludiam, de um lado, às forças políticas e econômicas que constroem a cidade no desenho do arquiteto e, de outro, ao uso dos espaços urbanos pela população. Hoje, no entanto, está claro que esses polos não se separam, pois usar é fazer e vice-versa, e não daremos conta da complexidade crescente das cidades sem arquitetarmos seus fazeres e usos de maneira dialógica.”

A exposição abrangia a problemática das urbes contemporâneas. Nela acompanhamos estudos sobre a cidade do Rio de Janeiro – o projeto “Rio Metropolitano”, com uma análise das tipologias típicas e atípicas da cidade do Rio de Janeiro, e o “Novas Cartografias” considerando o impacto das obras para as Olimpíadas, para a Copa e as demais questões que vem moldando o território metropolitano carioca.

Havia também um segmento apresentando algumas cidades dos Estados Unidos – Detroit e Los Angeles, sobretudo – onde a cultura do automóvel está tão profundamente enraizada que estas se deparam agora com uma grande quebra de paradigma. Como lidar com o colapso de uma estrutura individualista, que gira inteiramente em torno do carro, em face de um movimento de democratização da cidade?

China. Cidades fantasmas (O Caso de Ordos Kangbashi) x Cidades Superpopulosas. Ou o caso impressionante das imitações à escala urbana, como em Shenzhen, que chegam a copiar cidades inteiras.

Série “Made in China” (2013), fotografias de Valentina Tong

Para enaltecer essas discussões, a mostra traz depoimentos de grandes autores do passado, como Alison e Peter Smithson, a discussão sobre projetos icônicos como o COPAN, de Niemeyer, ou sobre um projeto de Sérgio Bernardes para o Rio de Janeiro, assim como também a exemplificação através de mídias que transcendem a arquitetura, como o cinema e a música.

Em resumo, acho que a bienal desse ano se mostrou muito mais diversificada e convidativa. Não apenas aos arquitetos, mas aos demais interessados no tema também.