Museu Soulages, RCR Arquitectes | Rodez
01/11/2022

Faleceu recentemente o artista francês Pierre Soulages (1919-2022). Ele nasceu em Rodez, na região da Occitânia, mas viveu grande parte da sua vida entre as cidades de Montpellier e Paris. Nos seus últimos anos de vida, ele trabalhava em um ateliê em Sète. O artista chegou a ter uma exposição individual no Louvre (2019-2020), pelo seu centenário, e bateu recorde ao leiloar um dos seus quadros por 9,6 milhões de euros.

A ideia de fazer um centro cultural em sua homenagem era antiga e diversas cidades, como Montpellier por exemplo, demonstraram interesse em receber o museu. Por fim, o artista deu preferência a Rodez, pois foi aqui que ele descobriu a sua paixão pela arte. Em 2005, Soulages e sua esposa doaram 250 peças para a coleção e desencadearam o processo de criação do museu.

Fachada do Museu Soulages

Foi lançado em 2008 um concurso para o projeto de arquitetura, do qual participaram escritórios como Jean Nouvel, Christian Portzamparc e Dominique Perrault. Os vencedores foram Rafael Aranda, Carme Pigem e Ramon Vilaltado, do RCR arquitectes, escritório Catalão que recebeu o Prêmio Pritzker em 2017. Em segundo lugar ficou Paul Andreu, que projetou os aeroportos Charles de Gaulle, em Paris, o de Abu Dhabi e o do Cairo. O terceiro lugar foi para o japonês Kengo Kuma, cuja proposta de um museu transparente com bastante vidro agradou o júri, mas era 70% acima do orçamento estipulado originalmente. O projeto do RCR foi considerado o melhor pois aproveitava bem o terreno, tinha o melhor funcionamento interno, além de uma sensibilidade estética em relação à obra de Soulages.

Integração suave do objeto com o terreno
Por trás da fachada de brises, há o corredor do setor administrativo.
Blocos salientes são as salas de exposição com pé direito mais alto

O Museu Soulages fica no jardim Foirail, situado entre o centro histórico e os novos bairros de Rodez. O prédio foi implantado na parte norte do jardim, deixando o espaço verde mais amplo ao sul. Enquanto na fachada sul, o objeto surge baixo e dialoga de forma suave com a inclinação do jardim, na fachada norte (voltada para uma rodovia), o museu rompe com o terreno acidentado, avançando com grandes volumes.

Museu visto a partir do Jardim Foirail
Fachada Sul
Blocos salientes na Fachada Norte

O jardim inclinado da face norte é inteiramente coberto por plantas, um imenso tapete verde que contrasta com a tonalidade marrom do aço cortén. O tento e o mobiliário urbano também são em aço. Há portanto uma coerência no desenho que extrapola os limites do prédio.

Banco em aço
Tento em aço. O mesmo material das fachadas é mantido nos elementos do entorno.
Fachadas opacas e grandes esquadrias
Blocos em balanço sobre o jardim inclinado

O aço cortén é um material recorrente nos projetos do RCR. As fachadas alternam entre superfícies totalmente fechadas, semiabertas com brises verticais, que resultam em um jogo de luz no interior, e planos totalmente transparentes com vidro.

Balanço sobre a entrada ao museu
Brises verticais na fachada do hall
Passarela interligando o hall ao restaurante

A entrada ao museu é realizada sob uma estrutura em balanço com mais de 12 metros de comprimento. Ao adentrar, à esquerda temos a bilheteria, a loja e a escada de acesso às salas de exposição no pavimento inferior. Para a direita, há uma passarela de vidro que cruza sobre uma escadaria na área externa e interliga o hall com os banheiros, armários e o restaurante do museu. Também é possível acessar o restaurante diretamente pela área externa. A sua fachada voltada para o jardim Foirail é composta pelos brises verticais de aço cortén e atrás há uma varanda com canteiros de pedras e um espelho d’água.

Fachada do restaurante
Varanda do restaurante
Detalhe dos materiais do paisagismo

A estrutura do museu é em concreto revestido em aço, tanto no exterior quanto no interior. Nas fachadas, o aço adquiriu com o tempo o tom avermelhado que se assemelha a algumas obras de litografia e serigrafia de Soulages. Internamente, o aço manteve sua tonalidade original mais escura. O revestimento metálico permitiu criar um sistema de fixação através de ímãs que aguentam mais de 60 quilos. Com isso, não é necessário furar a parede para prender o quadro e é mais fácil modificar a disposição do acervo exposto.

Salas de exposição com paredes em aço escuro

Uma exigência de Pierre Soulages foi estabelecer uma alternância entre salas escuras e claras. A luz é uma questão fundamental na obra do artista. Conhecido por usar muito preto, ele explora a luminosidade em suas pinturas através do contraste com outras cores, assim como pela espessura e a textura da tinta. As salas dos seus trabalhos mais antigos ficam nas salas no interior do edifício, com pé direito mais baixo, paredes escuras e sem janelas. À medida que chegamos nas salas com suas pinturas mais recentes e em grande formato, adentramos ambientes de pé direito mais alto, paredes em aço escuro e com grandes esquadrias. Há também três salas com paredes brancas. Nesses casos, a parede é emboçada e pintada e a fixação não é com ímã. As salas de pé direito mais alto são aqueles volumes salientes avistados de fora. A última sala da visita é a sala dos vitrais de Conques.

Sala de parede branca e iluminação zenital
Sala de pé direito alto com trabalhos mais recentes e de grande formato

Vitrais de Conques

Soulages não nasceu em uma família de artistas. Segundo ele, a paixão pela arte veio a partir de uma visita à igreja de Conques, que fica perto de Rodez. Ele foi arreatado pela sua beleza e diz que foi neste momento que ele decidiu se tornar um artista.

Muitos anos depois, em 1986, a cidade de Conques o convidou para projetar os novos vitrais da igreja. Esse projeto reforçou os laços do artista com o local, levando ao eventual acordo em construir o museu na região.

A coleção do Museu Soulages mostra algumas das mais de 700 amostras de vidro que o artista fez e um vídeo explicando o processo.

 

Sala de exposição temporária

Há ainda uma sala de exposições temporárias que, quando eu visitei, estava com uma exposição de Fernand Léger. Além das suas pinturas, a exposição incluía um vídeo com uma entrevista com Soulages, onde ele contava sobre o seu encontro com Léger e a influência do artista sobre a sua obra.