Fundação Beyeler, Renzo Piano BW | Riehen
25/03/2024

Visitei a Fundação Beyeler, na Suíça, em Julho 2023. O museu tem uma tipologia parecida com outras instituições de arte que conheci nos últimos anos, onde há galerias internas e um imenso jardim que também serve de espaço expositivo. São locais que proporcionam a integração da arte com a natureza e a paisagem do entorno. Alguns exemplos semelhantes são o Museu Voorlinden, em Haia (Países baixos), o Lousiana Museum, em Copenhague (Dinamarca), e Inhotim, em Brumadinho (Brasil). Esse último já foi assunto aqui no blog: Inhotim. São lugares que nos convidam a passar o dia, não somente admirando a arte, mas desfrutando do contato com natureza.

Fondation Beyeler. Arquitetura: Renzo Piano Building Workshop

A construção do museu foi patrocinada pelo marchand e colecionador Ernst Beyeler, que tinha como objetivo tornar a sua coleção de arte acessível ao público. A fundação existe desde 1982, quando começou a ser germinada a ideia da criação de um museu. O projeto foi iniciado em 1991 e foi desenvolvido até 1994 pelo escritório Renzo Piano Building Workshop. A construção data de 1994 a 1997.

Jardim com o museu ao fundo
Arquitetura integrada à natureza

A Fundação Beyeler fica em Riehen, uma comuna que faz parte do Cantão Basiléia-Cidade, e fica perto da fronteira entre a Suíça e a Alemanha. O acesso ao local é feito pela avenida Basel Strasse, um eixo viário importante por onde é possível vir da Basiléia via tram. O museu foi construído no Parque Berower, onde antigamente ficava a Villa Berower, uma residência unifamiliar que foi preservada e convertida em restaurante e no setor administrativo do museu. Dada a localização original da casa na parte sul do terreno, o prédio do museu ocupa a área restante ao norte.

Museu é parcialmete enterrado
Fachada sudoeste

O lote é relativamente estreito e comprido. O projeto, portanto, possui uma implantação linear, ocupando o centro do terreno e concentrando os jardins nas duas extremidades. Sua planta é composta por quatro paredes paralelas, com 127 metros de comprimento, que percorrem o terreno no sentido norte-sul e são espaçadas aproximadamente 7 metros entre si. Dentro dessas paredes, há uma malha de pilares de concreto. Essas paredes são como a espinha dorsal do projeto, encerrando as galerias de exposição. As galerias variam de largura, mas possuem todas o mesmo pé direito de 4,80 metros.

Jardim e lago visto de uma das galerias

Apesar da planta linear, o percurso interno é relativamente livre, o que permite ao visitante de perambular e escolher o seu próprio percurso.

 

O acesso ao interior é feito pela fachada sul. Logo antes da entrada (foto acima, à esquerda) , há uma unidade independente onde se encontra a bilheteria. Além das salas com a coleção permanente, há 2,700 metros quadrados para exposições temporárias. Quando eu visitei, estava acontecendo uma da Doris Salcedo, que foi de maio a setembro de 2023.

Obra de Doris Salcedo
Sala com Instalação de Doris Salcedo. A iluminação zenital é filtrada por camadas de vidro.

O revestimento das paredes, tanto em partes do interior quanto no exterior, é uma pedra vulcânica chamada Porphyry, proveniente da patagônia. Sua tonalidade avermelhada lembra uma pedra regional, que reveste a fachada da catedral de Basiléia, mas a Porphyry é bem mais resistente às intempéries.

Fachada com revestimento de pedra avermelhada e lago artificial em frente à fachada sul

A cobertura foi provavelmente o elemento mais desafiador do projeto. O cliente fazia questão de dois pontos no projeto: uma integração do prédio com o entorno, de modo que a construção se integrasse com as árvores do parque, e que a iluminação das galerias fosse zenital. Coube ao arquiteto conceber uma cobertura que permitisse a passagem de luz, mas que a filtrasse ao mesmo tempo, de modo a proteger as obras de arte. Foram pensadas diferentes camadas de vidro que filtram 50% da luz incidente. Painéis inclinados de vidro serigrafados direcionam a entrada da luz do norte e barram as luzes de leste e oeste. Uma segunda camada de painéis de vidro cria uma câmara de ar que ajuda na regulação da luz e da temperatura, além de facilitar a manutenção. Por baixo dessas camadas, há ainda uma camada de painéis metálicos perfurados com um tecido por dentro, o que permite a difusão da luz natural pelo espaço interno. Os beirais da cobertura se estendem lateralmente, protegendo as fachadas de vidro da incidência de luz direta. A estrutura metálica em aço transmite uma leveza que contrasta com o peso das paredes em pedra – a cobertura parece flutuar.

Cobertura parece flutuar sobre as paredes de pedra
Fachada norte. Beirais da cobertura protegem as fachadas de vidro

Para concentrar toda a coleção em um mesmo pavimento e criar um lago ao sul, foi necessário enterrar o prédio. Isso conferiu ao museu uma maior integração com terreno e um caráter mais intimista. De dentro das galerias, é possível admirar simultaneamente a arte e a natureza ao redor, o que é possível também graças às grandes fachadas de vidro.

Espaço de descanso no interior ao longo da fachada oeste
Espaço de descanso no interior ao longo da fachada oeste
Fachada Oeste

Ao longo da fachada oeste, que tem vista para um campo, há um corredor com sofás, o que oferece um lugar de descanso e contemplação da paisagem. O visitante é convidado a desfrutar do lugar, e não apenas visitar a exposição.

A seguir, algumas imagens de obras de arte presentes no jardim:

Living Series (1989), Jenny Holzer
Hase (2013), Thomas Schütte

Referências:

Beyeler Foundation Museum, Riehen – Renzo Piano Building Workshop  | Arquitectura Viva, Acesso em 24/02/2024

Fondazione » Beyeler Foundation Museum (fondazionerenzopiano.org), Acesso em 24/02/2024

Architecture and Nature (fondationbeyeler.ch) Acesso em 24/02/2024

Renzo Piano’s Foundation Beyeler, from the Domus archive – Domus (domusweb.it) Acesso em 24/02/2024