Centro Pompidou, Agência L35 | Málaga
19/03/2023

Visitei o Centro Pompidou de Málaga em Janeiro de 2023. Inaugurado em 2015, esse foi o primeiro museu Pompidou fora da França (além de Paris, há um também em Metz). O primeiro fora da Europa foi inaugurado mais recentemente, em Shanghai, no início de 2021. Com uma concessão inicial de 5 anos, a parceria com a cidade de Málaga foi prolongada até Março 2025, graças ao sucesso do empreendimento.

O Pompidou Málaga faz parte do complexo Muelle Uno, um projeto de revitalização da região portuária da cidade. Além de ser onde atracam os cruzeiros, o Muelle Uno concentra um passeio de pedestres à beira da água, repleto de bancos, quiosques, lojas e restaurantes. A arquitetura do Centro Pompidou, assim como a de outros prédios do complexo, foi desenvolvida pelos arquitetos Javier Pérez de la Fuente e Juan Antonio Marín Malavé, da agência L35.

Fachada oeste do museu, com o Cubo surgindo sobre a cobertura e a rampa interligando o terraço jardim com o nível da entrada do museu.

 

O Cubo visto do terraço jardim

O prédio

Seu apelido “O Cubo” faz referência ao elemento mais emblemático do projeto – um volume de 12 metros de altura por 12 nas larguras, totalmente envelopado por placas de vidro. As fachadas levam uma intervenção de cores assinada pelo artista francês Daniel Buren. O cubo colorido e translúcido se destaca na paisagem, mas também serve como um elemento de ligação visual entre o interior e o exterior do museu.

O cubo surge sobre a cobertura do museu, onde há um terraço jardim que fica no mesmo nível da via Paseo de los Curas. Dada a sua transparência, o cube permite aos visitantes do jardim a possibilidade de avistar a parte interna do museu. Do mesmo modo, os visitantes no interior podem observar o céu lá fora. Dentro do cubo há um vazio que costuma ser ocupado para uma intervenção artística. Na ocasião da nossa visita, tratava-se de uma instalação de Bernardí Roig intitulada “O labirinto de luz e o Minotauro”. A instalação era composta por 25 blocos de poliestireno de mais de 5 metros de altura, cuja composição se assemelha a um labirinto vertical.

 

Há uma rampa que percorre toda a fachada oeste do embasamento e faz a ligação entre o terraço jardim e a entrada do museu. O acesso é pelo térreo, no mesmo nível do passeio à beira d’água – o Paseo del Muelle Uno. A fachada do embasamento é opaca, revestida por chapas metálicas brancas e perfuradas. A escolha desse material que faz referência à ambiência portuária e industrial da região. Ao adentrar, à direita temos a bilheteria e para a esquerda temos a loja do museu, distribuída em patamares que vencem o desnível para o pavimento subterrâneo.

Distribuição Interna

O museu é distribuído linearmente em dois pavimentos principais. O acesso é feito pelo térreo e as principais salas de exposição estão no subsolo. Há dois espaços que atravessam o prédio verticalmente – o cubo que avança para o exterior – e uma sala de exposição com pé direito duplo, o que permite ao visitante já avistar parte da exposição do térreo, antes mesmo de descer.

De acordo com o texto dos autores do projeto, a ideia é que a circulação entre os espaços fosse feita de forma fluída. De fato, pela característica longitudinal e linear do edifício, os desníveis são vencidos através de rampas ou escadas com degraus profundos, o que torna a transição de um ambiente para o outro mais confortável e integrada. Há também elevadores.

Fonte corte: Gallery of Centre Pompidou Málaga / Javier Pérez De La Fuente, Juan Antonio Marín Malavé – 18 (archdaily.com)

A escolha de enterrar os principais espaços de exposição estabelece uma gradual transição dos espaços banhados pela luz natural até os ambientes com maior controle sobre a iluminação artificial. Semelhantemente, ao enterrar os espaços de exposição, há um maior controle da temperatura e eficiência em termos de climatização, o que se traduz em uma melhor preservação das obras de arte.

Além das salas de exposição, o museu conta também com uma sala multiuso para eventos e conferências. As áreas técnicas foram alocadas no perímetro do conjunto a fim de não interferir no funcionamento do museu.

Exposição

Quando visitei, a exposição em cartaz era “Tempo Próprio”, que segue aberta até outubro de 2023. Construída a partir do acervo do museu, “Tempo Próprio” traz uma reflexão sobre as diferentes noções de temporalidade, seja em função de acontecimentos pontuais como a recente pandemia da covid 19, ou por conta de diferentes estágios da vida, como a terceira idade, por exemplo.

 

A exposição reunia uma variedade de peças, como a escultura em Bronze “Pequena menina pulando corda” de Pablo Picasso; peças de design, como o “Calendário Perpétuo” de Enzo Mari; instalações como “Nós paramos justo aqui neste momento” do Ernesto Neto; e exemplares de arquitetura como imagens e maquete da Ópera de Tóquio, de Jean Nouvel, e do projeto da biblioteca de Paris, assinado pelo OMA.

“Nós paramos justo aqui neste momento”, instalação de Ernesto Neto

 

Projeto para a biblioteca de Paris, do OMA