Singapura | a cidade dentro de um jardim
17/05/2016
Cidade vista da cobertura do National Gallery Singapore

Singapura é uma cidade-estado na Ásia composta por 60 pequenas ilhas e com uma população de pouco mais de 5 milhões de habitantes. Singapura adquiriu sua independência em 1965 e é impressionante pensar o quanto o país se transformou em menos de um século.  Desde a primeira metade do século XIX até 1942, Singapura permaneceu uma colônia inglesa. Durante a segunda guerra, Singapura foi ocupada pelos japoneses, o que deu início a uma época de opressão e escassez no país. Em 1945, os Japoneses saíram e o país voltou ao domínio britânico até ser anexado à Malásia, de 1963 a 1965.

Hoje, Singapura é reconhecida como o 4º maior centro financeiro do mundo.  O país não tem recursos próprios então daí vem a necessidade de inovar. Singapura presta serviços numa escala global e também investe muito em turismo, recebendo anualmente 15 milhões de visitantes.  Esse número se deve, em grande parte, ao turismo de negócios – através de eventos, conferências e congressos – e às atrações turísticas locais – museus, parques, restaurantes e ícones arquitetônicos.

Chinatown

Pelas ruas de Chinatown

70% da população que habita em Singapura é de origem chinesa. Além da China e da Malásia, percebemos também uma forte influência da Índia.  A presença destas culturas é tão notável que há uma organização destas comunidades por bairros, como ocorre com ‘Little India’ e ‘Chinatown’.  Em ‘Chinatown’ encontramos diferentes templos dedicados a religiões distintas, como o budismo e o hinduísmo.  Em um local de tantas misturas e encontros, vale a tolerância religiosa.

Templo Buddhist Tooth
Templo Hindu no bairro de chinatown

Aqui em Chinatown também encontramos as tradicionais ‘shophouses’, pequenas edificações com comércio no térreo e residência no pavimento superior.  O bairro está situado ao lado do centro financeiro da cidade.  É interessante observar como essas pequenas e delicadas construções ficam do lado de arranha-céus envidraçados.  Do ponto de vista do patrimônio, isso poderia ser questionado visto que o contraste entre as ‘shophouses’ e os edifícios corporativos é realmente gritante.  Por outro lado, como não há muito espaço em Singapura, a constante renovação urbana é importante para manter a economia em crescimento.

 

Tradicionais ‘shophouses’ estão sendo renovadas e transformadas em empreendimentos modernos, como restaurantes.

Alinhado a essa tendência de renovação urbana, Chinatown também está passando por um processo de adaptação. Restaurantes, pontos de comércio e escritórios estão abrindo no local, tornando o bairro um ponto de interesse, especialmente para a população mais jovem.

A cidade verde da Ásia

Pouco após a independência, a partir dos anos 70, foi estabelecida uma política de áreas verdes na cidade que permanece até hoje.  Singapura vem investindo em parques como o Jurong Bird Park (aberto em 1971), um parque para a preservação e observação de diferentes espécie de pássaros, e o Zoológico de Singapura (aberto em 1973).

No início dos anos 90 foi lançado o Revised Concept Plan for Singapore (1991), um plano diretor para a cidade que incluía um modelo chamado ‘Green and Blue Plan’. Este documento identificava as áreas livres e os cursos de água da cidade que poderiam ser interligados de modo a revitalizar e preservar a biodiversidade, criando uma espécie de corredor ‘verde e azul’.  Soluções de corredores verdes dentro de cidades atravessam diferentes bairros, proporcionando um acesso mais democrático ao parque, além de uma transição mais gradual em termos de paisagem. Sem contar que áreas verdes contínuas permitem a migração da fauna local, como pássaros e insetos.

Singapura vem trabalhando a sua imagem como ‘uma cidade dentro de um jardim’. Em 2011, foi eleita a cidade mais verde da Ásia, segundo o Asian Green City Index. Um dos empreendimentos mais recentes da cidade, que fala sobre a importância de uma política do meio ambiente, é o ‘Gardens by the Bay’.

Gardens by the Bay

Gardens by the Bay

Assinado pelo escritório britânico “Grant Associates”, o projeto para o Gardens by the Bay foi o resultado de um concurso realizado em 2006.  Inaugurado em 2011, o complexo apresenta uma série de espaços focados na preservação e no ensino sobre o meio ambiente.

Entre as suas atrações, o parque inclui as maiores estufas do mundo – a cloud forest e a flower dome. A cloud forest recria o ambiente das florestas húmidas, típicas do clima equatorial, e conta inclusive com uma enorme cachoeira artificial dentro da estufa.  No final da exposição, há uma série de vídeos informativos sobre os efeitos da mudança climática e o aquecimento global no nosso planeta.

Cachoeira dentro da estufa Cloud Forest

A “flower dome” é uma outra estufa que reúne flores de milhares de espécies diferentes.  Vi tulipas incríveis, como eu nunca tinha visto.

Flower Dome

Do lado externo, além de jardins temáticos, há o “Supertree Grove”, jardins verticais sobre estruturas metálicas que se assemelham a árvores gigantescas.

Supertree Grove, no Gardens by the Bay
Supertree grove com o Marina Bay Sands no fundo

O complexo fica do lado do hotel Marina Bay Sands, projeto icônico de Safdie Architects.  O projeto conta com três torres conectadas por uma cobertura única de 65 metros de comprimento. Safdie Architects também assina o projeto de extensão do aeroporto, o Jewel Changi Airport, selecionado pelo site Archdaily como um dos melhores prédios de 2020.

Hotel Marina Bay Sands, de Moshe Safdie, um dos maiores hotéis do mundo.

Singapura é uma cidade que soube incorporar as influências de diferentes culturas, tirar o melhor de cada uma delas, e criar uma identidade própria.  É um local onde percebemos um diálogo entre o patrimônio e ícones contemporâneos, onde a preservação de valores tradicionais de culturas milenares está em sintonia com a dinâmica de renovação urbana. Além disso, Singapura mostra como uma consciência ambiental e um clima equatorial podem estar alinhados a um sistema produtivo altamente eficaz e tecnológico.