Kulturhuset, o Beaubourg de Estocolmo | Suécia
02/02/2014

Tradução do Sueco: Kultur – Cultura / Huset – Casa

À primeira vista, o ‘Kulturhuset’ me lembrou o Centro Georges Pompidou, o Beaubourg de Paris. Foi instintivo e não soube bem justificar o porquê dessa impressão visto que morfologicamente são construções completamente distintas. No entanto, a medida que fui conhecendo melhor o projeto, percebi que a minha impressão inicial não estava tão equivocada.  Achei interessante portanto traçar um paralelo entre as duas obras.

Os projetos são contemporâneos. O Kulturhuset foi inaugurado em 1974, apenas 3 anos antes da inauguração do Beaubourg, e é assinado pelo arquiteto sueco Peter Celsing enquanto o Pompidou é uma parceria do italiano Renzo Piano com o inglês Richard Rogers.

O kulturhuset fica bem no centro de Estocolmo, em Sergels Torg, em frente à saída de uma das principais estações de metrô e trem da cidade. Essa região de cruzamento de vias e de fluxo intenso é muito semelhante àquela que averiguamos em Les Halles, bairro onde se encontra o Beaubourg. Essa proximidade com os grandes eixos viários da cidade exerce uma forte influência em ambos os projetos.

O fluxo se torna o núcleo estruturador do edifício, organizando os ambientes escalonados ao longo do seu eixo. A diferença é que no Beaubourg as escadas rolantes essão no exterior, compondo o desenho da fachada, enquanto no Kulturhuset elas estão no cerne do edifício, bem protegidas do frio.

Centro Georges Pompidou, em Paris, com as escadas rolantes na fachada
Kulturhuset – Escada Rolante no interior compõe o eixo central do edifício

A Suécia é muito fria para verificarmos uma ampla vivência dos espaços públicos abertos. No início do outono, a temperatura já chega a 0 grau à noite e fica em torno de 10 graus durante o dia. Como se trata de uma edificação pública coletiva, o kulturhuset assume então a função da praça pública. Encontrei lá pessoas jogando xadrez, lendo o jornal, tomando um café, apreciando a vista, todas atividades que poderiam ser desenvolvidas numa praça, sendo que aqui elas estavam protegidas do frio.

As exposições e os espetáculos no museu são todos pagos, porém o acesso ao edifício é gratuito e não há restrições para a utilização dos espaços comuns.  Há uma grande midiateca que fica aberta também. Um espaço público permeado de cultura incentiva a leitura e o ensino além de oferecer um espaço para o descanso, qualidades que também verificamos no Centro Pompidou.

Janelas em Fita, estrutura de concreto aparente e traços retos – um edifício tipo do movimento moderno

Em termos morfológicos, os edifícios são antagônicos. O Pompidou emerge como um ícone do movimento pós-moderno ‘high tech’, enquanto o Kulturhuset preserva traços fortemente modernos (estrutura de concreto aparente, janelas em fita, formas puras e linhas retas). Contudo, como equipamento urbano, ambos desempenham papeis semelhantes – os objetos se impõem como articuladores do espaço urbano. Além da previamente assinalada conexão com o anel viário, a implantação afastada do entorno permite a criação de uma praça em frente ao edifício. Esse gesto possibilita avistar o objeto a distância, além de gerar um espaço congregador a céu aberto.

Praça em frente ao Beaubourg, em Paris
Praça rebaixada em frente ao Kulturhuset, nivelada de acordo com a estação de trem. O acesso à estação é feito sob a galeria do lado esquerdo da foto
Praça pública permite a realização de inúmeros eventos tais como campeonato de snowboard