Tradução do Sueco: Kultur – Cultura / Huset – Casa
À primeira vista, o ‘Kulturhuset’ me lembrou o Centro Georges Pompidou, o Beaubourg de Paris. Foi instintivo e não soube bem justificar o porquê dessa impressão visto que morfologicamente são construções completamente distintas. No entanto, a medida que fui conhecendo melhor o projeto, percebi que a minha impressão inicial não estava tão equivocada. Achei interessante portanto traçar um paralelo entre as duas obras.
Os projetos são contemporâneos. O Kulturhuset foi inaugurado em 1974, apenas 3 anos antes da inauguração do Beaubourg, e é assinado pelo arquiteto sueco Peter Celsing enquanto o Pompidou é uma parceria do italiano Renzo Piano com o inglês Richard Rogers.
O kulturhuset fica bem no centro de Estocolmo, em Sergels Torg, em frente à saída de uma das principais estações de metrô e trem da cidade. Essa região de cruzamento de vias e de fluxo intenso é muito semelhante àquela que averiguamos em Les Halles, bairro onde se encontra o Beaubourg. Essa proximidade com os grandes eixos viários da cidade exerce uma forte influência em ambos os projetos.
O fluxo se torna o núcleo estruturador do edifício, organizando os ambientes escalonados ao longo do seu eixo. A diferença é que no Beaubourg as escadas rolantes essão no exterior, compondo o desenho da fachada, enquanto no Kulturhuset elas estão no cerne do edifício, bem protegidas do frio.
A Suécia é muito fria para verificarmos uma ampla vivência dos espaços públicos abertos. No início do outono, a temperatura já chega a 0 grau à noite e fica em torno de 10 graus durante o dia. Como se trata de uma edificação pública coletiva, o kulturhuset assume então a função da praça pública. Encontrei lá pessoas jogando xadrez, lendo o jornal, tomando um café, apreciando a vista, todas atividades que poderiam ser desenvolvidas numa praça, sendo que aqui elas estavam protegidas do frio.
As exposições e os espetáculos no museu são todos pagos, porém o acesso ao edifício é gratuito e não há restrições para a utilização dos espaços comuns. Há uma grande midiateca que fica aberta também. Um espaço público permeado de cultura incentiva a leitura e o ensino além de oferecer um espaço para o descanso, qualidades que também verificamos no Centro Pompidou.
Em termos morfológicos, os edifícios são antagônicos. O Pompidou emerge como um ícone do movimento pós-moderno ‘high tech’, enquanto o Kulturhuset preserva traços fortemente modernos (estrutura de concreto aparente, janelas em fita, formas puras e linhas retas). Contudo, como equipamento urbano, ambos desempenham papeis semelhantes – os objetos se impõem como articuladores do espaço urbano. Além da previamente assinalada conexão com o anel viário, a implantação afastada do entorno permite a criação de uma praça em frente ao edifício. Esse gesto possibilita avistar o objeto a distância, além de gerar um espaço congregador a céu aberto.