Nesta última semana, meu facebook foi bombardeado por artigos falando sobre a falência do grupo Estação de Cinema, no Rio de Janeiro. Fiquei muito triste com a notícia. O Grupo Estação é um marco para o cinema carioca. Com sua programação aberta e alternativa, aqui encontramos filmes estrangeiros interessantes, documentários e mostras temáticas que dificilmente encontramos em outros cinemas da cidade. Se realmente fecharem, sentirei saudades dos eventos do ‘Estação Odeon’, que misturam cinema e festa, tais como o Cachaça Cinema Clube ou a Maratona de cinema. Grande parte da mostra do Festival de Cinema do Rio também é projetada nas salas do Grupo Estação. Durante as semanas do evento, eu tento ir ao cinema quase todos os dias. Só no ano passado, assisti a cinco filmes numa mesma semana. Fico me perguntando portanto: E agora? Onde irei assistir aos filmes que gosto?
Essa situação me lembrou o fenômeno que se alastrou por Lisboa nos últimos anos de crise. Cinemas que eu muito frequentei durante a minha estadia na cidade – entre eles o tradicional Cinema King e o Cinema Londres – foram fechados. Pelo o que li, o Cinema Londres será transformado em uma loja de produtos chineses. Triste. Cogitou-se até fechar a Cinemateca Portuguesa. Logo a Cinemateca! O lugar onde podíamos assistir a grandes clássicos por apenas 2 euros. Foi lá que conheci o cinema de Wim Wenders através do filme “Paris, Texas”, e foi lá em que tive a oportunidade de assistir “Psicose”, de Hitchcock, pela primeira vez na telona. Uma experiência maravilhosa! Sem contar com as ‘Sessões de Arquitetura e Cinema’ e, entre elas, a inesquecível palestra do diretor Manuel de Oliveira, promovida pelo meu então professor de projeto, José Neves. Chegou a ser feita uma petição em defesa da Cinemateca, amplamente divulgada na internet.
Parece que nesses momentos de crise, os melhores lugares são os primeiros a fechar. Como aconteceu com a Modern Sound de Copacabana – o último reduto dos amantes de música e compradores de CDs. Mas a cidade segue em frente, e eventualmente nos adaptamos à sua ausência – É incrível e terrível a capacidade de adaptação do ser humano. Mas enquanto o veredito não sai (previsto para o dia 3 de Abril), ficamos na torcida e na mobilização em nome da permanência do Grupo Estação.


06 de Junho de 2014
Foi anunciado hoje o fechamento de mais um cinema de rua tradicional no Rio de Janeiro – o Cinema Leblon, da rede Severiano Ribeiro. Novamente, a causa foi atribuída a uma crise financeira. Inaugurado em 29 de Setembro, de 1951, o Cinema Leblon tornou-se um marco na paisagem carioca e deixará saudades. Diante de mais essa notícia questiono-me: seria o cinema de rua um programa ultrapassado para as urbes contemporâneas?

11 de Junho de 2020
Escrevo agora em meio à pandemia do Corona Vírus. Em casa há quase três meses, recebi recentemente a notícia que o grupo Estação (que conseguiu superar a crise de 2014) lançou uma campanha de arrecadação on-line para não fechar as portas de vez. É comovente assistir os vídeos dos frequentadores do cinema e ver quantas boas memórias foram construídas no local. De fato, é um momento de muitas incertezas, mas acredito que o grupo estação vá superar mais essa. Espero que sim.