Fui para a Holanda num desses últimos fins de semana. Em três dias, conseguimos visitar 4 cidades diferentes – Delft, Rotterdam, Amsterdam e Utrecht. Foi corrido mas, com uma programação organizada e objetiva, deu pra ver bastante coisa.
O que se torna claro é que a arquitetura na Holanda não é apenas discutida, mas é uma realidade construída. Os debates são em cima de objetos produzidos – não se detendo apenas em ideias. Podemos dizer até que há uma maior proximidade entre a teoria e a prática, o que sem dúvida leva a um maior avanço de ambas as partes. Faz sentido se avaliarmos a produção de alguns dos principais escritórios de arquitetura do país – OMA, MVRDV, UN Studio – todos estes buscam um debate teórico além da construção.
Em Amsterdam, vimos projetos de habitação social com soluções inovadoras. Por vezes são empreendimentos caros, com materiais e soluções estruturais de alta tecnologia. Outros casos já são mais singelos, sendo feitos inteiramente num mesmo material – como o tijolo, por exemplo – mas cuja qualidade do desenho e o rigor da execução, é evidente.
A relação das pessoas com o espaço público é bastante interessante. Lá conferimos algo que funciona bem também na Alemanha e na França, mas que na Espanha e em países mais ao sul não demonstraram o mesmo sucesso. Refiro-me à vivência do interior do quarteirão. Familias aproveitam essa época do ano, quando já está mais quente, para conviver nos centros de quadras. É um espaço aberto para a cidade que não chega a ser completamente público e guarda uma certa intimidade. Aqui você não é um anônimo, como nas ruas, e estabelece uma relação mais próxima com os vizinhos.
No campus universitário em Utrecht, encontramos vários exemplos da solução do “Cut out” e “Fill in” – por vezes meio repetitiva, mas que não deixa de ter um certo charme. Ela torna o projeto lúdico e ao mesmo tempo é capaz de reafirmar um conceito. Torna o desenho do edifício como um todo mais coerente.
Por vezes, tenho a sensação de que estou vendo maquetes gigantescas e sinto falta de um certo peso na arquitetura. Algo que eu já encontrei no belíssimo projeto da biblioteca de Amsterdam, de Joe Coenen, na extensão do ‘Town Hall’ no centro de Utrecht, de Enric Miralles, e no Kunsthal do OMA, em Rotterdam.